quarta-feira, 7 de março de 2018


Niassa: Um destino, uma esperança

 

Texto de Carol Banze

Imagens: Carlos Uqueio

Os destinos têm o condão de cunhar impressões. Podem ser boas ou más. Mas podem ser também diferentes, uma designação especialmente litografada para lugares especiais, cuja sensação que deixam é boa e ao mesmo tempo assim-assim.
Niassa, desportivamente apelidado de pedaço esquecido do vasto Moçambique, situado no extremo noroeste do país, é a maior província com uma área de 129 056  Km², mas, a menos povoada, com 1 865 976 habitantes, de acordo com os resultados preliminares do censo de 2017.
É esta terra que, contra toda negatividade, responde à altura dos seus desafectos e faz a devida revanche, exibindo maravilhas nunca vistas no universo. O Lago Niassa, localizado no Vale do Rift entre o Malawi, a Tanzânia e Moçambique, faz primorosamente a vez para obstar a revés.
Ele exibe-se sem modéstia ao comprido dos seus 560 km, alarga pelas suas costuras laterais e elegantes generosos 80 km e leva até uma profundidade máxima de 700 metros.
A sua idade é estimada entre um e dois milhões de anos e um nível de água variável, de acordo com as estações do ano. Mas é a sua vista que ensoberbece a vontade da natureza; ultrapassa a sapiência e mitiga a carência atribuída à gigante Niassa, onde o povo caminha de forma periclitante de um lugar para o outro, atravessando atalhos, estradas, rios, montes…
Este é o lugar das carências, onde estender a mão a outrem, jornadear de um lugar para o outro, em alguns casos, subordina-se à generosidade da mãe natureza.
Localidades como Chiuanga e Messumba aparecem-nos aos olhos como exemplos ilustrativos. O rio Lunho, que se posiciona serpenteando as areias que liga povos, culturas, amores e, à mesma medida, afasta os desamores. Serve de recanto das lendas e mitos geralmente incubadas e adormecidas debaixo das águas. Mas é também o lugar dos encantos, o leito da beleza.
Rostos e semblantes expectantes, ávidos de abraçar o porvir, são exibidos através da nganda, uma dança majestosamente dançada pela sua gente.
Seus dançarinos, enformados e aprumados em conjuntos especiais de cor alva, que fazem o contraste com a cor da sua pele, exibem um porte à altura da sua manifestação cultural, com gestos elegantes, refinados e rimados.
Mas é a terra firme que cimenta a querença de plantar e colher as macadâmias e outras culturas mais; que materializa a ânsia pela abundância material e intelectual.
É o rosto do pequeno pastorinho que denuncia o desejo dos seus pares; denota a mestria na sua lida e querença de comutar a manada pela máquina; a palha pela alvenaria.  

É este o destino fotografado com esmero pelo foto-jornalista Carlos Uqueio, que revela as maravilhas da gigante e inobservada província do Niassa.