PANDEMIA DA COVID-19
Medidas de prevenção
violadas na calada da noite(Recolher obrigatório)
Aglomeração de homens e mulheres, cigarros, comidas e bebidas alcoólicas a rodos… Este é o ambiente desolador que se continua a viver nalguns bairros da cidade de Maputo, apesar dos apelos para a observância de medidas preventivas diante da pandemia da covid-19.
domingo acompanhou as acções de fiscalização da Polícia da República de Moçambique (PRM) em alguns bairros da cidade de Maputo e relata episódios que testificam que, com raríssimas excepções, o decreto presidencial continua a ser pontapeado por alguns citadinos, mesmo numa altura em que o mundo reza para que os números de infectados e mortes baixem.
Tudo começou numa concentração no Comando Geral da PRM em Maputo, onde a instrução foi mandar fechar todos os estabelecimentos comerciais a funcionarem fora das horas previstas. A ronda policial visa também sensibilizar as pessoas a obedecerem a lei, advertir aos infractores para que cumpram com a lei bem como recolher os promotores da desordem, consumidores e vendedores de bebidas alcoólicas e seus produtos.
“Sejam implacáveis; quem não quer estar na cela deve cumprir a lei, caso contrário… bom trabalho”, instruiu José Homo, director da ordem a nível do Comando Geral da cidade.
Depois do protocolo, o efectivo composto por agentes das polícias de Protecção, de Trânsito e Municipal configurou as caravanas que se distribuiriam em todas as direcções da cidade de Maputo, conforme as rotas definidas.
domingo seguiu a equipa enviada a Chamanculo, bairro tido como um dos focos de aglomerados, consumidores de bebidas alcoólicas na via pública, entre outras infracções… ali, a Polícia flagrou estabelecimentos em pleno funcionamento fora das horas previstas.
Barbearias de estacas e zinco, barracas de manicure e alguns “take aways” na rua Dr. Lacerda e Almeida que atravessa o mercado Malanga funcionavam a todo o vapor, alguns dos quais com verdadeiros aglomerados.
No local, a Polícia recolheu 20 cidadãos que consumiam bebidas alcoólicas e os proprietários dos estabelecimentos. O grupo foi conduzido à 18.ª Esquadra da PRM para os devidos processos.
Naquela unidade, enquanto acompanhávamos a instauração de processos-crime dos 20 detidos, iam chegando outros indivíduos por razões diversas, desde a recusa de uso de máscara nos autocarros e outros flagrados a consumirem bebidas alcoólicas em diversos pontos.
Entre os que chegaram, estava uma jovem de 25 anos de idade, que disse que foi detida só porque estava na boleia de um colega do trabalho, onde outros ocupantes decidiram parar para tomar algumas cervejas, por ser sexta-feira.
Outra cidadã, de 39 anos de idade, contou que o azar lhe bateu à porta quando estava a cuidar das unhas e dói-lhe o facto de o dono do estabelecimento ter escapado da detenção, pois pôs-se em fuga assim que notou a presença da Polícia.
Outra cidadã de 19 anos que está a contas com a Polícia é funcionária de “take away”. Ainda com sinais de medo, disse à nossa reportagem que normalmente fecha o estabelecimento na hora certa, mas naquele dia teve muita demanda e estava a preparar a última encomenda quando foi flagrada.
NA FISCALIZAÇÃO DA UIR
Noite adentro, domingo integrou ainda uma caravana da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e o primeiro ponto a escalar foi o bairro do Jardim, onde, por sinal, as operações anteriores tinham ajustado o comportamento dos agentes económicos.
As ruas daquela zona estavam tranquilas; antes da hora do recolher obrigatório já denunciavam algum vazio, não obstante a detenção de uma jovem que demonstrava euforia excessiva resultante do consumo de álcool na via pública.
Quanto aos pontos de venda, o ambiente era de total silêncio. A Polícia passou por um bar conhecido por protagonizar actos de desobediência, mas na altura estava mesmo encerrado. Cenário idêntico foi verificado nas barracas do Choupal.
DESMANTELADA DISCOTECA
CLANDESTINA NO BENFICA
O relógio marcava 21.00 horas quando a nossa reportagem na companhia da Polícia escalou o bairro George Dimitrov e o som estridente de música e gritos de alegria chamaram a atenção dos agentes da Lei e Ordem.
A Polícia invadiu o local, alguns presentes tentaram escapar pelas janelas da improvisada “discoteca”, mas foram detidos 35 indivíduos entre homens e mulheres, todos embriagados, alguns dos quais mal conseguiam andar, bem como foi apreendida uma quantidade considerável de bebidas alcoólicas.
Em contacto com os detidos, domingo apurou que o local funciona como uma discoteca apelidada “Txila Night”.
O trabalho da Polícia continuou e no bairro do Zimpeto e, graças a uma denúncia popular, foi possível desmantelar mais um local “escondido” numa residência para a venda e consumo de bebidas alcoólicas.
Os infractores intentarem manobras de fuga. No acto da detenção, não se percebendo da presença da imprensa, a dona da casa tentou subornar a Polícia com dois mil Meticais, tendo sido recolhida com crime adicional no processo.
Durante a ronda, a equipa do domingo notou que na Estrada Nacional Número Um (EN1) até às 23.00 horas continuava a registar-se movimento de viaturas. A contrastar com esta realidade, a estrada circular estava vazia e silenciosa à semelhança de outras vias secundárias por onde foi possível fazer a ronda.
Venda e consumo de bebidas
continuam preocupantes
O porta-voz da PRM na cidade de Maputo, Leonel Muchina, fez um balanço positivo da operação. Entretanto, reconhece que a venda e consumo de bebidas alcoólicas continuam preocupantes porque mesmo com as barracas fechadas a prática continua.
“As mesmas pessoas que vendiam e consumiam bebidas nas barracas continuam a fazê-lo, mas agora nos quintais”, disse.
Muchina explicou que com essas práticas as cadeias de transmissão continuam activas e cada vez mais fortes, pois são famílias que são infectadas, afectando toda a sociedade.
Apesar disso, a fonte refere que há avanços no âmbito de denúncias de populares. Segundo disse, no princípio as pessoas não entendiam a importância da denúncia, mas estão a perceber que a aceleração da propagação da doença, em parte, deve-se à irresponsabilidade de algumas pessoas perigando, consequentemente, os outros que até obedecem as regras.
Texto: Eduardo Changule
Foto-reportagem: Carlos Uqueio
Publicado in jornal domingo
01/08/2021
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