O papel do fotojornalista: fotografar o que gostamos e não gostamos, e o que outros gostam e não gostam.
Artigo escrito por: Carlos Uqueio, repórter e monitor em fotografia jornalística e documental.

Indo para o tema do dia, vamos relembrar a frase do fotojornalista moçambicano Alfredo Mueche, "Fotografa o que você gosta de ver e o que os outros não gostam e vice-versa", oferece uma perspectiva fundamental sobre o papel do fotojornalista. Ao capturar imagens, o fotojornalista não apenas reflete suas próprias preferências e aversões, mas também documenta o que os outros valorizam ou rejeitam. Esse duplo enfoque é essencial para entender a profundidade e a complexidade do trabalho na fotografia jornalística.
Fotografar o que gostamos é uma maneira de imprimir nossa visão pessoal na narrativa visual. Quando um fotojornalista foca em temas ou detalhes que o atraem, ele não apenas transmite uma mensagem autêntica, mas também destaca aspectos da realidade que ressoam profundamente com sua própria sensibilidade. Essa abordagem pode revelar nuances e emoções que, de outra forma, poderiam ser perdidas em uma representação mais neutra.
Por outro lado, capturar o que não gostamos pode revelar facetas importantes e frequentemente negligenciadas da realidade. Em muitas situações, as imagens que retratam o desconforto, a injustiça ou o que é considerado incômodo são fundamentais para provocar a reflexão e o debate. O fotojornalista que se dedica a documentar o que é desagradável ou controverso desempenha um papel crucial ao expor verdades muitas vezes ignoradas, forçando o público a confrontar realidades desconfortáveis.
Além disso, a prática de fotografar o que os outros gostam ou não gostam amplia a relevância e o impacto do trabalho do fotojornalista. Documentar o que é popular ou admirado pode capturar o espírito de um tempo ou um lugar, refletindo as tendências e valores predominantes. Da mesma forma, registrar o que os outros evitam ou desprezam permite ao fotojornalista iluminar áreas menos visíveis, oferecendo uma visão mais completa e imparcial da sociedade.
Esse equilíbrio entre a fotografia de preferências pessoais e as imagens que desafiam o status quo é o que define a prática do fotojornalismo. Ao combinar essas abordagens, o fotojornalista não só expressa uma visão individual, mas também desempenha um papel crucial na formação de uma compreensão mais abrangente e crítica do mundo ao nosso redor. Assim, a frase de Alfredo Mueche destaca uma verdade essencial: a fotografia é tanto uma expressão pessoal quanto uma ferramenta de relevância social, essencial para uma narrativa visual rica e completa.
Sem comentários:
Enviar um comentário