Da câmera ao papel: Reflexões de um fotógrafo que se tornou escritor
Ao longo da minha carreira como repórter, a fotografia sempre foi a minha principal forma de expressão. Meu trabalho é capturar momentos, traduzir emoções em imagens e deixar que elas falassem por si mesmas. No entanto, a necessidade de complementar a fotografia com a escrita surgiu de maneira inesperada e transformadora.
Quando ingressei nos quadros do Notícias, minha rotina era sair ao terreno para cobrir eventos e capturar imagens impactantes. Contudo, ao retornar à redacção, enfrentava o constrangimento de depender de colegas para redigir os textos que acompanhariam minhas fotografias. Muitas vezes, esses profissionais estavam ocupados com suas próprias tarefas, tornando essa dependência um desafio adicional.
Com a reestruturação da redacção do jornal Domingo, passei a contar com renomados jornalistas como Belmiro Adamugy, a professora Carol Banze e o director André Matola para escrever os textos que contextualizavam minhas imagens. Entretanto, a real mudança ocorreu quando o então chefe da redacção, António Mondlane, me fez um convite que mudou minha perspectiva. Ele disse:
"Uqueio, tu tens estado em muitos lugares e eventos onde o jornal não tenha mandado um repórter de escrita e nós ficamos muitas vezes aflitos porque precisamos alimentar o nosso jornal online. Por que não te metes a escrever? Eu sei que tu podes, tu consegues. O resto nós alinhamos."
Naquele momento, encarei suas palavras com ceticismo. A escrita jornalística parecia um desafio além das minhas competências. No entanto, a oportunidade voltou a se apresentar quando Carol Banze, já como subchefe da redacção, reforçou o pedido. Com um tom bem-humorado e directo, disse-me:
"Uqueiooooo, eu tou biz meu broooo. Comece a escrever já! Infelizmente não será fácil estar toda hora disponível para fazer os teus textos, porque conforme podes ver, tenho muitos textos por ler e alinhar. Então, Uqueiooooo, comece a escrever."
Diante desse desafio, percebi que precisava tomar as rédeas da minha própria narrativa. Aos poucos, comecei a escrever e, com o tempo, notei uma evolução significativa. Hoje, enquanto fotografo, sinto o contexto, vivo os momentos e consigo transpor essas emoções tanto nas imagens quanto nos textos que as acompanham.
Essa experiência me ensinou que o jornalismo moderno exige profissionais versáteis. Não basta ser um excelente fotógrafo; é essencial também dominar a escrita. Um repórter completo deve ser capaz de contar histórias tanto visual quanto textualmente.
A jornada ainda não terminou. Sinto que tenho muito a aprender e aprimorar, mas cada novo texto é um passo rumo a essa evolução. Agradeço a todos que me incentivaram a ingressar no mundo da escrita. O desafio de associar fotografia e escrita é grande, mas a satisfação de contar histórias de forma integral é ainda maior.