sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 Por que o repórter fotográfico deve Ser apresentado com o mesmo respeito que o repórter de escrita?

 

Artigo de opinião escrito por Carlos Uqueio, repórter & monitor em fotografia documental e jornalística

 

No jornalismo, a cobertura de um evento ou facto não é uma acção isolada, mas um esforço conjunto que envolve diversas competências. No entanto, é comum notar que, durante a apresentação das equipes em campo, o repórter de escrita se coloca no centro da narrativa, muitas vezes ignorando ou minimizando a presença do repórter fotográfico. Essa prática não apenas desvaloriza um profissional essencial, mas também enfraquece a noção de trabalho em equipe, que é a base do jornalismo de qualidade.

A fotografia é um elemento indispensável no jornalismo moderno. Em muitos casos, a imagem tem um impacto mais imediato do que o próprio texto, capturando emoções, contexto e informações de maneira que as palavras, sozinhas, não conseguem transmitir. Apesar disso, o repórter fotográfico é frequentemente tratado como um coadjuvante, alguém que apenas acompanha o repórter de escrita. Essa desvalorização se reflete na maneira como ele é apresentado:  

- "Bom dia, este é meu fotógrafo Carlos Uqueio, estou aqui para fazer um trabalho..."  

- "Bom dia, eu sou Mariana, sou do jornal Notícias, estou aqui a fazer um trabalho sobre..."  

 

Nos dois exemplos, percebe-se uma hierarquia implícita. No primeiro, o repórter fotográfico é tratado como um assistente ou um acessório do repórter de escrita, como se estivesse ali apenas para complementar o trabalho do outro. No segundo, ele sequer é mencionado, sendo reduzido à invisibilidade.

 

O jornalismo não se faz sozinho. Cada membro da equipe desempenha um papel fundamental para garantir que a notícia seja contada de forma completa, precisa e impactante. O repórter de escrita e o repórter fotográfico têm responsabilidades distintas, mas igualmente essenciais. O primeiro traduz os acontecimentos em palavras, contextualizando e explicando a informação, enquanto o segundo captura imagens que conferem autenticidade e impacto à reportagem.

 

Ignorar ou minimizar a presença do repórter fotográfico não é apenas uma questão de falta de reconhecimento profissional, mas também uma distorção do próprio conceito de jornalismo. Se o trabalho é conjunto, a apresentação também deve ser.

 

A maneira como a equipe se apresenta no campo de reportagem pode influenciar directamente a forma como ela é recebida pelos entrevistados e fontes. Quando o repórter de escrita se coloca como figura central, relegando o fotógrafo a uma posição secundária, isso pode afectar o respeito e a colaboração que o fotógrafo recebe no ambiente de trabalho.

 

O ideal seria uma apresentação que refletisse a parceria entre os profissionais, como nos exemplos abaixo:  

- "Bom dia, somos Mariana e Carlos Uqueio, do jornal Notícias. Estamos aqui para fazer uma reportagem sobre..."  

- "Bom dia, sou Mariana, repórter de escrita, e este é Carlos Uqueio, repórter fotográfico. Estamos aqui para documentar esta história em palavras e imagens."  

 

Essas abordagens reforçam a ideia de que a cobertura jornalística é um esforço conjunto, em que texto e imagem são igualmente importantes para a construção da notícia.

 

O jornalismo deve valorizar todos os seus profissionais, reconhecendo que cada um tem um papel fundamental na construção da informação. O repórter fotográfico não é um simples acompanhante do repórter de escrita, mas um narrador visual da notícia, cuja contribuição é indispensável. É hora de corrigir essa cultura de exclusão e garantir que, no campo de trabalho, todos recebam o respeito e reconhecimento que merecem. Afinal, uma reportagem bem-feita não é mérito de um só, mas do esforço coletivo de toda a equipe.

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