Niassa:
Um destino, uma esperança
Texto de Carol Banze
Imagens: Carlos Uqueio
Os
destinos têm o condão de cunhar impressões. Podem ser boas ou más. Mas podem
ser também diferentes, uma designação especialmente litografada para lugares
especiais, cuja sensação que deixam é boa e ao mesmo tempo assim-assim.
Niassa, desportivamente
apelidado de pedaço esquecido do vasto Moçambique, situado no extremo noroeste
do país, é a maior província com uma área de 129 056 Km², mas, a menos povoada, com 1 865 976
habitantes, de acordo com os resultados preliminares do censo de 2017.
É esta terra que,
contra toda negatividade, responde à altura dos seus desafectos e faz a devida revanche, exibindo maravilhas nunca
vistas no universo. O Lago Niassa, localizado no Vale do Rift
entre o Malawi,
a Tanzânia
e Moçambique,
faz primorosamente a vez para obstar a revés.
Ele exibe-se sem
modéstia ao comprido dos seus 560 km, alarga pelas suas costuras laterais e
elegantes generosos 80 km e leva até uma profundidade máxima de 700 metros.
A sua idade é
estimada entre um e dois milhões de anos e um nível de água variável, de acordo
com as estações do ano. Mas é a sua vista que ensoberbece a vontade da
natureza; ultrapassa a sapiência e mitiga a carência atribuída à gigante Niassa,
onde o povo caminha de forma periclitante de um lugar para o outro,
atravessando atalhos, estradas, rios, montes…
Este é o lugar das
carências, onde estender a mão a outrem, jornadear de um lugar para o outro, em
alguns casos, subordina-se à generosidade da mãe natureza.
Localidades como Chiuanga
e Messumba aparecem-nos aos olhos como exemplos ilustrativos. O rio Lunho, que
se posiciona serpenteando as areias que liga povos, culturas, amores e, à mesma
medida, afasta os desamores. Serve de recanto das lendas e mitos geralmente
incubadas e adormecidas debaixo das águas. Mas é também o lugar dos encantos, o
leito da beleza.
Rostos e
semblantes expectantes, ávidos de abraçar o porvir, são exibidos através da
nganda, uma dança majestosamente dançada pela sua gente.
Seus dançarinos,
enformados e aprumados em conjuntos especiais de cor alva, que fazem o
contraste com a cor da sua pele, exibem um porte à altura da sua manifestação
cultural, com gestos elegantes, refinados e rimados.
Mas é a terra
firme que cimenta a querença de plantar e colher as macadâmias e outras
culturas mais; que materializa a ânsia pela abundância material e intelectual.
É o rosto do
pequeno pastorinho que denuncia o desejo dos seus pares; denota a mestria na
sua lida e querença de comutar a manada pela máquina; a palha pela alvenaria.
É este o destino
fotografado com esmero pelo foto-jornalista Carlos Uqueio, que revela as
maravilhas da gigante e inobservada província do Niassa.