terça-feira, 12 de novembro de 2024

 O dia das Manifestações em Maputo

 Por: cronica de  Carlos Uqueio

Em meio à tensão e ao caos das ruas de Maputo, cobrimos as manifestações que abalaram a cidade. Estávamos prontos para cumprir com o nosso papel, mesmo sabendo o que nos esperava. Naquela manhã, eu, acompanhado pelo fotojornalista Jerónimo Muianga, o colega jornalista Alcides Mbenhane e motorista Madime, preparávamo-nos para mais uma missão que exigiria cautela e, sobretudo, coragem. Antes de sairmos, Mbenhane, com sua fé inabalável, sugeriu que orássemos juntos dentro da viatura da redacção. Aquela breve pausa trouxe-nos não só paz, mas também um senso de unidade e propósito. Sabíamos que o que estava por vir exigiria mais do que habilidade profissional: era uma questão de resiliência e fé, pois a situação poderia escapar ao nosso controlo à qualquer momento.

Assim que chegamos ao local, a atmosfera era densa e tensa. Manifestantes ocupavam as ruas, enquanto as forças de defesa e segurança tentavam controlar a multidão.Os meus olhos observavam tudo atentamente, e os clicks da minha câmera registavam os momentos de pura intensidade e realidade nua e crua. A situação escalou rápido, e logo o som ensurdecedor de disparos de balas de borracha e explosões de bombas de gás lacrimogéneo inundaram o ambiente. A cada avanço, enfrentávamos a névoa espessa de gás lacrimogéneo. A irritação nos olhos e a dificuldade para respirar eram inevitáveis, mas, por algum milagre, mantivemo-nos ilesos.

Sabíamos que a nossa missão era relatar a verdade e documentar a situação, independentemente das adversidades. Madime, com habilidade, mantinha o carro pronto para nos retirar à qualquer momento, caso as coisas se tornassem mais intensas. O que realmente nos moveu foi a consciência de nossa responsabilidade em documentar e mostrar a verdade dos eventos, mesmo em meio ao risco.

Ao final, ao nos afastarmos da linha de fogo e retornarmos à segurança da redacção, percebemos a magnitude do que havíamos acabado de viver. Tivemos sorte, ou talvez um amparo divino, ao sairmos ilesos daquela situação caótica. Para nós, essa cobertura foi mais do que uma simples missão jornalística; foi uma prova de que a fé e a união, combinadas com o compromisso de trazer a verdade à luz, são forças poderosas diante de qualquer desafio.

 

sábado, 2 de novembro de 2024

 A omissão da assinatura nas fotografias jornalísticas: Uma ameaça ao valor do profissional e à credibilidade da Imagem

Artigo de escrito por: Carlos Uqueio, repórter e monitor em fotografia jornalística e documental

A prática de não creditar as fotografias publicadas na imprensa tem se tornado comum, e esse comportamento ameaça a ética jornalística e desvaloriza o trabalho dos repórteres fotográficos. A ausência da assinatura nas fotos desconsidera o esforço, a dedicação e o olhar crítico desses profissionais, que trabalham para capturar imagens que enriquecem e contextualizam as notícias. Como argumenta Barthes (1984), a fotografia é uma linguagem visual única que carrega o olhar subjectivo do fotógrafo sobre o mundo. Dessa forma, omitir o crédito significa, em última instância, ignorar o direito de autoria e reduzir a imagem a uma mera ilustração, enfraquecendo seu valor narrativo e informativo.

 

Desvalorização do Profissional e Impacto na Motivação

Para o repórter fotográfico, a assinatura é uma forma essencial de reconhecimento. A omissão do crédito o priva de visibilidade, invisibilizando seu trabalho e comprometendo o desenvolvimento de sua carreira. Em um mercado jornalístico cada vez mais competitivo, o fotógrafo depende de sua reputação para avançar profissionalmente. Quando os jornais optam por publicar imagens sem o nome do autor, enfraquecem essa construção de credibilidade, o que desmotiva o profissional e leva, eventualmente, ao enfraquecimento do próprio jornalismo visual.

Perda de Credibilidade e Risco de Manipulação

A assinatura em uma fotografia não é apenas uma formalidade, mas um selo de autenticidade e responsabilidade. Roland Barthes (1984), em sua obra A Câmara Clara, salienta que a fotografia é uma forma de interpretação visual da realidade e que a presença do autor torna a imagem mais credível e contextualizada. Ao omitir o nome do fotógrafo, os jornais correm o risco de tornar as imagens mais vulneráveis a questionamentos sobre sua origem e veracidade, o que, em última análise, prejudica a credibilidade da publicação. Esse tipo de omissão pode abrir espaço para o uso indevido ou manipulação das fotos, gerando desinformação e colocando em risco a confiança do público.

 

Violação dos Direitos Autorais

As fotografias são protegidas pela legislação de direitos autorais, que garante ao fotógrafo o direito de ser reconhecido como autor de sua obra. Ao não creditar as imagens, os jornais infringem esse direito fundamental, desrespeitando o repórter fotográfico e expondo-se a possíveis disputas legais. Barthes (1984) ressalta que a fotografia possui um valor simbólico e cultural que precisa ser reconhecido, e o crédito é uma forma de respeitar esse valor, além de ser uma proteção para a própria integridade do trabalho jornalístico.

 

Conclusão

O crédito na fotografia é uma prática simples, mas essencial para o respeito ao repórter fotográfico e para a manutenção da ética no jornalismo. Ignorar essa prática não apenas desvaloriza o profissional, mas também enfraquece a confiança do público no conteúdo visual apresentado. Como destaca Barthes (1984), a imagem não é apenas um reflexo do real, mas uma interpretação subjectiva do fotógrafo, e reconhecer essa autoria é fundamental para proteger o valor e a credibilidade da informação jornalística. Portanto, é fundamental que os jornais resgatem o compromisso com a transparência e o respeito pelo trabalho de seus colaboradores, reafirmando a importância da assinatura nas fotografias.

 

Referência pesquisada

- Barthes, R. (1984). A Câmara Clara: Nota Sobre a Fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.