O dia das Manifestações em Maputo
Por: cronica de Carlos Uqueio
Em meio à tensão e ao caos das ruas de Maputo, cobrimos as manifestações que abalaram a cidade. Estávamos prontos para cumprir com o nosso papel, mesmo sabendo o que nos esperava. Naquela manhã, eu, acompanhado pelo fotojornalista Jerónimo Muianga, o colega jornalista Alcides Mbenhane e motorista Madime, preparávamo-nos para mais uma missão que exigiria cautela e, sobretudo, coragem. Antes de sairmos, Mbenhane, com sua fé inabalável, sugeriu que orássemos juntos dentro da viatura da redacção. Aquela breve pausa trouxe-nos não só paz, mas também um senso de unidade e propósito. Sabíamos que o que estava por vir exigiria mais do que habilidade profissional: era uma questão de resiliência e fé, pois a situação poderia escapar ao nosso controlo à qualquer momento.
Assim que chegamos ao local, a atmosfera era densa e tensa. Manifestantes ocupavam as ruas, enquanto as forças de defesa e segurança tentavam controlar a multidão.Os meus olhos observavam tudo atentamente, e os clicks da minha câmera registavam os momentos de pura intensidade e realidade nua e crua. A situação escalou rápido, e logo o som ensurdecedor de disparos de balas de borracha e explosões de bombas de gás lacrimogéneo inundaram o ambiente. A cada avanço, enfrentávamos a névoa espessa de gás lacrimogéneo. A irritação nos olhos e a dificuldade para respirar eram inevitáveis, mas, por algum milagre, mantivemo-nos ilesos.
Sabíamos que a nossa missão era relatar a verdade e documentar a situação, independentemente das adversidades. Madime, com habilidade, mantinha o carro pronto para nos retirar à qualquer momento, caso as coisas se tornassem mais intensas. O que realmente nos moveu foi a consciência de nossa responsabilidade em documentar e mostrar a verdade dos eventos, mesmo em meio ao risco.
Ao final, ao nos afastarmos da linha de fogo e retornarmos à segurança da redacção, percebemos a magnitude do que havíamos acabado de viver. Tivemos sorte, ou talvez um amparo divino, ao sairmos ilesos daquela situação caótica. Para nós, essa cobertura foi mais do que uma simples missão jornalística; foi uma prova de que a fé e a união, combinadas com o compromisso de trazer a verdade à luz, são forças poderosas diante de qualquer desafio.
Sem comentários:
Enviar um comentário