O fotógrafo oficial e o protocolo
Na vida pública, nada é por acaso. Uma cadeira deslocada, um gesto fora de hora ou uma fotografia mal enquadrada podem pôr em causa a imagem de uma instituição. É por isso que o fotógrafo oficial não pode limitar-se a dominar a técnica: tem a obrigação de conhecer as normas de protocolo.
O protocolo, lembra António de Araújo, é o conjunto de regras que asseguram ordem e respeito nas cerimónias. Quando o fotógrafo ignora esse código, corre o risco de se tornar protagonista indesejado: invade espaços restritos, interrompe discursos com cliques ou regista imagens que desrespeitam a hierarquia. O erro não é apenas fotográfico, é institucional.
Respeitar a ordem e a precedência é fundamental. Um chefe de Estado não pode aparecer deslocado numa foto de grupo. A discrição também conta: não há espaço para correrias atrás de ângulos ou para o barulho da câmara durante um hino nacional. O respeito ao espaço cerimonial é outra regra de ouro: atravessar zonas reservadas é mais do que falta de educação, é quebra de protocolo. Até a indumentária do fotógrafo comunica: o profissional também é parte da cena e deve estar à altura dela.
Juan Carlos Gafo insiste que “o protocolo não é rigidez, é harmonia”. E essa harmonia depende de cada detalhe. Uma fotografia pode valorizar um acto diplomático ou, pelo contrário, transformá-lo numa confusão de imagens mal posicionadas. Como bem lembra Sílvia Helena Zanirato, a comunicação institucional também se faz através das imagens. Muitas vezes, é a fotografia e não o discurso que fica para a história.
Em Moçambique, onde as instituições ainda consolidam a sua imagem perante os cidadãos e o mundo, o papel do fotógrafo oficial ganha peso extra. Ele não apenas regista: legitima. A sua lente testemunha momentos de Estado que se tornam memória colectiva.
Ser fotógrafo oficial, portanto, não é apenas carregar uma câmara. É carregar uma responsabilidade histórica. Conhecer o protocolo não é um detalhe: é parte essencial do ofício. A fotografia pode imortalizar a ordem e a dignidade de uma cerimónia. Ou pode eternizar o descuido. A escolha está, quase sempre, no olhar de quem está atrás da lente.
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