Umbeluzi: Quando o sustento vira armadilha!
Texto e fotos de Carlos Uqueio, publicado no dia 16/08/2025-Jornal Noticias
Nas margens do rio Umbeluzi, em Boane, um retrato discreto e duro revela-se todos os dias. Ali, jovens e adultos mergulham tanto de dia assim como de noite, no leito do rio para extrair areia, que depois segue para obras e construções. O que para muitos é apenas matéria-prima, para eles é a única forma de garantir o sustento da casa.
Mas o preço é alto. O Umbeluzi é um rio que carrega crocodilos nas suas águas silenciosas, esperando por quem se distrai ou não tem escolha. Sem equipamentos de proteção, sem licença ou acompanhamento técnico, esses exploradores avançam com baldes e sacos, confiando apenas na própria força e na esperança de sair dali vivos.
A prática, além de ilegal, corrói o meio ambiente. As margens cedem, o leito do rio vai ficando mais fundo e o seu equilíbrio natural se perde. A extração descontrolada favorece inundações e destrói habitats, deixando o futuro do ecossistema tão vulnerável quanto quem arrisca o corpo dentro d’água.
Enquanto alguns se dedicam a explorar inertes, há mulheres que lavam roupa e carregam-na para o consumo, como ilustram as imagens. Não é só nas margens do rio que essa exploração acontece. Nas proximidades, formam-se pequenos grupos que também praticam essa actividade, evidenciando como a dependência da areia vai para além do leito do Umbeluzi e infiltra-se no quotidiano de quem vive ali.
“É daqui que tiramos o pão. Sabemos do perigo, mas não temos outro caminho”, confessa um jovem, sem largar o balde. O olhar dele, captado pelas lentes desta reportagem, diz o que as palavras não alcançam: a necessidade empurra para o risco, mesmo que seja contra a natureza e contra a própria vida.
Esta reportagem fotográfica de Carlos Uqueio mostra mais do que homens no trabalho. Ela expõe o contraste doloroso entre a luta pela sobrevivência e a destruição silenciosa do ambiente. Um ciclo que ameaça o rio, as suas margens e todos os que dependem dele.
No fim, fica a pergunta estampada nas imagens: até onde vale a pena cavar o presente, se isso significa afundar o futuro?
Sem comentários:
Enviar um comentário