quinta-feira, 30 de outubro de 2025

 Beijing:

Da cidade proibida ao trânsito livre!

Por: Carlos Uqueio

Localizada no norte da China, Beijing  também conhecida como Pequim é uma das cidades mais antigas e importantes do país. Com mais de 21 milhões de habitantes, a capital chinesa combina de forma impressionante a história milenar do Império do Meio com a modernidade acelerada de uma potência global. É o centro político e cultural da China, abrigando sedes do governo, templos históricos e bairros inteiros que respiram inovação tecnológica. A economia da cidade é impulsionada por sectores como a tecnologia, a indústria, a educação e o turismo, que atraem milhões de visitantes todos os anos.

Em Beijing  histórias de contrastes e convivências entre o antigo e o novo, o tradicional e o urbano. Um dos marcos mais emblemáticos retratados é a Cidade Proibida, um vasto complexo imperial que durante séculos serviu de residência aos imperadores chineses. Hoje, é um dos pontos turísticos mais visitados do mundo, onde o passado imperial se mantém vivo entre muralhas de cor vermelha e telhados dourados.

Mas Beijing não é feita apenas de monumentos. Nas ruas, o quotidiano revela uma cidade disciplinada e organizada. Em cada cruzamento, nota-se o respeito exemplar pelos peões, um gesto que traduz o civismo cultivado na sociedade chinesa.

Nas horas de ponta, os engarrafamentos são inevitáveis, mas os habitantes parecem lidar com naturalidade com o fluxo constante de carros, autocarros e bicicletas que preenchem as avenidas largas e bem estruturadas.

Esta reportagem fotográfica procura, assim, mostrar a alma de Beijing: uma cidade que honra as suas raízes, mas que olha para o futuro com confiança e energia. Entre o ritmo acelerado da vida urbana e a serenidade dos seus templos e jardins, Beijing revela-se como um espelho do próprio país, uma nação em movimento, onde tradição e modernidade caminham lado a lado.

















                                                MAGOANINE “A”

Onde a esperança caminha descalça

AS inundações que assolaram Maputo nos últimos anos deixaram marcas profundas no Bairro Magoanine A. Famílias foram desalojadas e muitas casas permanecem vazias, com portas quebradas e janelas abertas, feridas silenciosas de um passado que já não existe. A igreja, antes ponto de encontro e refúgio e de busca de esperança, ergue-se sozinha, cercada por ruas alagadas e esquecidas. É uma testemunha muda do abandono.

Mas é nas crianças que a dureza da realidade se revela de forma mais cruel. Todos os dias, de segunda a sexta-feira, elas enfrentam um percurso perigoso e exaustivo até à escola. Escalam muros de quintais abandonados, afundam os pés na lama, que insiste em invadir as ruas, e carregam mochilas molhadas, cadernos sujos e livros manchados pela lama. Cada passo é uma batalha silenciosa; cada lágrima derramada é um grito pela dignidade e atenção.

“Ontem, caí na água e molhei todos os meus cadernos. Hoje, chorei porque não queria passar por aqui, mas não tenho outro caminho”, conta Inês, de oito anos, segurando a pasta ainda manchada de lama.

“Todos os dias galgo muros com medo de cair ou me machucar-me. dias que quero simplesmente ficar em casa, sem enfrentar lama e o frio da manhã. Mas sei que preciso de ir à escola; a minha mãe diz os meus sonhos não podem esperar, mesmo que o caminho pareça impossível”, descreve Joaquim, 11 anos, resumindo o percurso diário como uma verdadeira batalha.

O medo de cair, de se machucar e de perder um dia de escola torna-se parte da rotina dessas crianças. E, mesmo assim, elas insistem. Cada passo na lama é uma prova de coragem; cada esforço, uma declaração de que o conhecimento vale o risco.

Estas imagens não mostram apenas ruas inundadas ou casas abandonadas. Revelam abandono humano e social, negligência urbana e o impacto devastador das enchentes. Mas, acima de tudo, reflectem coragem, resistência e resiliência. Crianças que, mesmo diante de muros, lama e desespero, continuam a caminhar, aprender e sonhar.

 










Texto e fotos: Carlos Uqueio

Guinjata: turismo e pesca sob risco da erosão costeira

No sul de Inhambane, Guinjata é uma praia conhecida pelas águas do Índico e pelas extensas faixas de areia. Mais do que um destino turístico, é um espaço de vida para as comunidades locais, onde o mar garante o sustento, preserva tradições e marca a identidade da região.

Guinjata não é de acesso fácil. Para chegar, é preciso enfrentar uma estrada de areia profunda que só veículos 4x4 conseguem atravessar. O percurso exige esforço, mas ao fim revela uma comunidade ligada ao mar e à pesca.

À entrada, o ambiente é marcado pela rotina diária: pescadores puxam redes ao amanhecer, crianças acompanham com curiosidade e mulheres trabalham lado a lado com os homens, seja na pesca, na limpeza ou na venda do peixe. “Tem sido muito bom receber turistas aqui. Eles vêm para mergulhar, explorar a natureza e provar nossa gastronomia. Com isso, aumentou o movimento e também os ganhos para todos nós”, diz Manuel Guiamba, agente turístico local.

Apesar da vitalidade, Guinjata enfrenta desafios sérios. A erosão costeira ameaça parte da orla e a ausência de políticas ambientais consistentes deixa as comunidades vulneráveis. “A cada maré alta, vemos a areia desaparecer. Estou desesperado, porque é a nossa praia, nossa casa, e tudo pode se perder se nada for feito”, lamenta Celeste Guivala, moradora.

O destino atrai visitantes interessados em mergulhos com raias gigantes, safáris marinhos e gastronomia local, encontrando hospitalidade genuína e histórias partilhadas pelos moradores. Guinjata reflete a realidade de Moçambique: um território de riqueza natural e cultural, mas também de dificuldades que exigem soluções sustentáveis.

 














 Quando a câmera que vigia se transforma em ameaça!

Por: Carlos Uqueio

Vivemos um tempo em que a segurança deixou de ser apenas portas trancadas e muros erguidos. Hoje, ela se traduz em olhos eletrónicos que nunca dormem, câmeras que vigiam cada passo dentro e fora de casa. Essas máquinas prometem tranquilidade, proteção contra assaltos e sensação de paz. Mas o mesmo olhar que deveria proteger pode também aprisionar.

Foi o que aconteceu com um casal que viu a sua intimidade transformada em espetáculo secreto. Confiaram num técnico para instalar câmeras em toda a residência, até no quarto, espaço que deveria permanecer inviolável. O profissional fez o trabalho, entregou as chaves digitais, mas guardou para si a senha de acesso. Daí em diante, passou a assistir à vida do casal como quem espreita por uma janela proibida, roubando-lhes a liberdade nos momentos mais íntimos. A verdade só veio à tona após um furto, quando a investigação policial arrancou-lhe a confissão.

O episódio é perturbador não apenas pelo crime em si, mas pelo que revela sobre a fragilidade da confiança. A tecnologia, que deveria ser escudo, converteu-se em arma. Em vez de garantir proteção, abriu espaço para o abuso e a violação da dignidade humana. O que se perdeu não foi apenas privacidade, mas também a paz de saber-se seguro dentro do próprio lar.

Este caso ilumina duas lições. A primeira é a responsabilidade dos profissionais e empresas do sector. Quem trabalha com sistemas de vigilância precisa compreender que não lida apenas com máquinas, mas com vidas. O acesso deve ser restrito e qualquer violação não é falha ética, é crime. Fiscalização rigorosa e punições severas são necessárias para que a tecnologia não se torne um espelho perverso.

A segunda lição recai sobre os próprios consumidores. Em nome da segurança, muitos abrem mão do limite do razoável e permitem câmeras em todos os cantos da casa. No entanto, há espaços onde a câmera nunca deve entrar. O quarto é mais do que um lugar de descanso, é território sagrado da intimidade. Ao instalar ali um olho eletrónico, não se está apenas a vigiar intrusos, mas a abrir mão daquilo que nos torna humanos: a privacidade.

A era digital estreitou a fronteira entre proteção e invasão. O mesmo dispositivo que pode evitar um assalto pode, em mãos erradas, tornar-se instrumento de chantagem, humilhação e medo. É uma faca de dois gumes, e sua lâmina corta fundo quando a confiança é traída.

A segurança verdadeira não está apenas nos cabos, câmeras e softwares, mas também na ética de quem os instala e na consciência de quem os contrata. Confiar é essencial, mas confiar sem limites é arriscar-se a perder o que não tem preço.

No fim, fica a pergunta que ecoa como um aviso: que segurança é essa que, em vez de proteger, nos deixa expostos? Talvez a resposta esteja em lembrar que a tecnologia não é guardiã nem inimiga. Ela é apenas reflexo das mãos que a utilizam. E, nesse reflexo, a privacidade deve permanecer como um direito intocável, porque sem ela a casa deixa de ser abrigo e transforma-se em vitrine.