Osaka Fala, Moçambique Ouve!
Por: Carlos Uqueio
Estive recentemente na cidade de Osaka, no Japão, e vivi uma experiência que me ensinou bastante. Não foi só uma viagem a um país diferente, foi uma verdadeira lição sobre como a sociedade pode funcionar melhor quando as pessoas vivem com honestidade, respeito e cuidado pelos outros.
Numa das noites da minha estadia, fui jantar num restaurante local onde fui muito bem atendido e saí. Só mais tarde percebi que tinha esquecido o meu telemóvel em cima da mesa. Fiquei muito preocupado. Voltei rapidamente ao restaurante, achando que já tinha perdido o aparelho. Mas, para minha surpresa, um funcionário do restaurante já vinha ao meu encontro com o telemóvel na mão. Entregou-me com um sorriso calmo, fez uma pequena vénia e voltou ao seu trabalho. Não pediu dinheiro, não reclamou de nada. Apenas fez o que achava certo.
Esse gesto simples mostrou-me uma grande verdade: No Japão, as pessoas são ensinadas desde cedo a respeitar aquilo que é dos outros. Não pegam no que não é delas, mesmo que ninguém esteja a ver. Lá, a honestidade faz parte da vida. E isso tocou-me profundamente.
Outra coisa que me chamou atenção foi o funcionamento dos restaurantes. Lá, não existe a prática da “nyonga”, que entre nós é a gorjeta. Você paga só o que consumiu. Nada mais. E mesmo sem receber ‘’nyonga’’, o atendimento é excelente. As pessoas servem com respeito, com paciência, com profissionalismo. Não esperam “algo a mais” para te tratarem bem. Fazem bem feito porque têm consciência e educação.
Isso fez-me pensar muito sobre o nosso país. Em Moçambique, infelizmente, estamos habituados a dar gorjeta para receber um bom serviço. Muitas vezes, só somos bem atendidos se deixarmos um “refresco”. E quando alguém perde um objecto de valor, é raro encontrar quem o devolva. Tudo isso precisa mudar.
Outro exemplo: certa vez, em Osaka, perguntei a um senhor o caminho para uma loja. Ele não falava inglês, mas mesmo assim caminhou comigo até ao local, para ter certeza de que eu chegaria bem. Foi um gesto simples, mas cheio de significado. Hospitalidade não é só dizer "bem-vindo", é se preocupar com o outro.
O Japão não é perfeito, mas tem muitas coisas boas que nós podemos aprender e copiar. Lá, as pessoas vivem com ordem, respeito e responsabilidade. Não precisam de polícia em cada esquina para fazer o que é certo. Elas fazem porque aprenderam isso desde crianças.
E eu pergunto: por que nós, moçambicanos, também não podemos ser assim? Temos um povo bom, trabalhador, acolhedor. Mas precisamos mudar alguns hábitos. Precisamos ensinar as crianças que pegar no que não é seu está errado. Precisamos aprender a atender bem sem esperar sempre algo em troca. Precisamos respeitar mais uns aos outros, seja no trânsito, nos serviços, nos espaços públicos ou na convivência diária.
A mudança começa por dentro de cada pessoa. Se cada um fizer a sua parte, o país todo melhora. Não é preciso ter muito dinheiro para viver com honestidade. Basta querer fazer o certo.
De Osaka, trouxe muitas imagens e boas lembranças. Mas, acima de tudo, trouxe no coração a esperança de que Moçambique também pode ser um lugar onde a honestidade e o respeito sejam vividos todos os dias. Não por medo ou por obrigação, mas porque é assim que se constrói uma sociedade justa.
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