segunda-feira, 7 de julho de 2025

                                                                       OSAKA:

                                                      Potência industrial com rosto humano

 

Texto e fotos de Carlos Uqueio, publicado no jornal domingo, 6/7/25

Na recente passagem por Osaka, ficou notável o quanto a economia pode funcionar melhor quando está ligada à educação cívica e ao planeamento urbano inteligente. Localizada na região de Kansai, a terceira maior cidade do Japão impressiona não apenas pelos números, cerca de 2,7 milhões de habitantes, mas também pelo funcionamento impecável dos seus serviços e pelo comportamento exemplar da sua população.

 

Embora seja uma metrópole industrial e moderna, Osaka é profundamente marcada por valores de ordem, silêncio e respeito pelo espaço comum. A cidade oferece uma experiência rara para quem vem de realidades em que a desorganização e o improviso ainda marcam o quotidiano económico.

 

HARMONIA NA VIDA URBANA

Com um Produto Interno Bruto (PIB) superior a 500 mil milhões de dólares, Osaka posiciona-se entre as áreas urbanas mais ricas do mundo. É um dos grandes centros industriais e logísticos do Japão, com destaque especial para a indústria automóvel, onde marcas como Toyota, Honda, Nissan e Suzuki mantêm centros de produção e desenvolvimento. Além disso, o sector de tecnologias avançadas, portos, pequenas e médias empresas, e a robusta rede de transporte contribuem para um ambiente empresarial altamente produtivo.

Contudo, o que mais impressiona é que esse crescimento económico não ocorre à custa da qualidade de vida. A cidade é limpa, silenciosa, arborizada e segura. Mesmo nos bairros mais centrais, há árvores, jardins e praças públicas bem cuidadas. A presença do verde, planeada com rigor, dá à cidade um ar respirável e visualmente equilibrado, o que melhora o bem-estar urbano.

No comércio, outro aspecto chama a atenção: não se pratica a gorjeta (conhecida entre nós como “nyonga”), e, mesmo assim, o atendimento é de alta qualidade. A ética está no serviço, e não numa moeda extra. Pequenos restaurantes, mercados, lojas e até vendedores de rua seguem padrões de higiene e atendimento que não dependem de fiscalização permanente. A economia informal é organizada e o cliente sente-se valorizado. O que se nota é que o profissionalismo é parte da cultura.

 

TRANSPORTE  E MOBILIDADE INTELIGENTE

O sistema de transportes é outro pilar da estrutura económica funcional de Osaka. O metro cobre grande parte da cidade e opera com pontualidade milimétrica. As estações são limpas, bem sinalizadas e organizadas. Não se ouvem buzinas, nem se vêem aglomerações desordenadas. Cada passageiro segue o seu caminho em silêncio e com disciplina. O tempo e os recursos são bem utilizados e isso, por si só, já representa eficiência económica.

Nos transportes públicos, não há perdas de produtividade por atrasos ou confusões logísticas. O sistema funciona porque foi desenhado com precisão e porque os cidadãos colaboram. Trata-se de uma engrenagem social e económica baseada no respeito.

 

A “COZINHA DO JAPÃO”

A gastronomia é um dos elementos mais fortes do sector de serviços locais. Osaka é conhecida como a “cozinha do Japão”, e pratos como okonomiyaki (panqueca salgada japonesa) e takoyaki (bolinho de polvo) movimentam não só o turismo, mas também cadeias produtivas de alimentos frescos, embalagens, logística e restauração.

A economia da comida de rua e dos pequenos negócios é tratada com a mesma seriedade dos grandes sectores industriais.

O domingo visitou também o Templo do Pavilhão Dourado (Kinkaku-ji), em Kyoto, a pouco mais de uma hora de Osaka. O turismo religioso e histórico é parte importante da economia regional. O templo, com as suas paredes cobertas de ouro e jardins milimetricamente desenhados, atrai milhares de visitantes por ano. A organização em torno do turismo é discreta, mas eficaz. Há sinalizações em vários idiomas, circuitos bem definidos e total respeito pelos espaços sagrados.

Entretanto, a verdadeira força económica de Osaka está no comportamento das pessoas. Em cada detalhe  no trânsito, no atendimento, na limpeza das ruas, na pontualidade  percebe-se uma cultura baseada em responsabilidade e consciência colectiva.

Portanto, Osaka não é apenas uma cidade rica em números, é também rica em valores. A maior lição económica que dela se tira é que a economia de um país ou cidade não se mede apenas pelo volume de produção, mas também pela forma como se protege o tempo, os recursos, o espaço público e a dignidade do trabalho.

Construir uma economia forte passa por investir com seriedade na educação cívica, no planeamento urbano, transportes eficientes e ética no trabalho.












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