sábado, 26 de julho de 2025

                                              Vidas ao sabor das ondas

 

Texto e fotos: Carlos Uqueio

No bairro dos pescadores, em Maputo, o dia nasce com o cheiro forte do sal e o som suave das ondas. Antes mesmo de o sol tocar o Índico, homens de mãos calejadas partem em pequenos barcos, carregando redes, iscas e a coragem que o mar exige.

Ali, o mar é mais que paisagem: é destino e sustento. Generoso em algumas manhãs, devolve barcos repletos de peixe e promessas. Mas também tem seus dias ásperos, em que testa a força de quem ousa enfrentá-lo. “Às vezes o combustível acaba lá longe, e ficamos à mercê do balanço das ondas”, confessa um pescador, com o olhar perdido no horizonte, como se esperasse resposta do próprio oceano.

Na beira da praia,como ilustram as imagens de Carlos Uqueio, a vida continua em outras mãos. São as mulheres que transformam o peixe magumba: lavam, limpam, temperam e vendem, num ritual que mistura trabalho e esperança. Pequenas barracas surgem nas redondesas, erguidas por mãos simples, onde vozes se cruzam em negociações rápidas. Mas o inverno não traz só o frio do ar, esfria também o movimento dos compradores, que aos poucos desaparecem.

Ainda assim, o bairro dos pescadores não perde o ritmo nem a fé. Cada amanhecer é um convite silencioso para tentar outra vez, embalados pela brisa que sopra do mar, sussurrando que, apesar dos desafios, o oceano sempre guarda um novo dia de abundância para quem não desiste de sonhar.

 










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