Zelar pela Imagem do Chefe: Uma Missão do Fotógrafo Oficial
Por: Carlos Uqueio, reporter e monitor em fotografia documental e jornalistica
Ser fotógrafo oficial de uma alta individualidade é muito mais do que capturar momentos. É um exercício diário de sensibilidade, atenção e responsabilidade institucional. Quem está por trás da câmara carrega a missão de representar visualmente o Estado de forma digna, respeitosa e estratégica.
Falo a partir da minha experiência prática, acumulada ao longo de anos acompanhando de perto algumas das mais altas figuras do governo. Durante esse percurso de pouco mais de 10 anos, aprendi que a estética e a imagem pública não podem ser ignoradas. Ao contrário do que alguns pensam, a aparência de um ‘’Chefe’’ é uma extensão da mensagem política que ele carrega. E é justamente aí que entra o papel do fotógrafo oficial: garantir que cada imagem cumpra, com rigor, esse papel de representação.
Já vivi situações desconfortáveis em que a gravata do ‘’Chefe’’ estava mal posicionada, presa de maneira estranha dentro do casaco. Após uma comunicação atempada, usando gestos e sinais, solicitei ao ajudante de campo que informasse o ‘’Chefe’’ para arranjar a gravata — e assim foi. Caso isso não acontecesse, seria um erro que, à primeira vista, poderia parecer pequeno, mas que comprometeria não só a estética da imagem, como também a percepção pública da autoridade. Uma figura desalinhada transmite desleixo e, numa fotografia oficial, isso não pode acontecer.
Por isso, considero essencial que exista uma comunicação, mesmo que sutil, entre o ‘’Chefe’’ e o fotógrafo. Seja por meio de sinais discretos, seja por uma breve conversa antes dos eventos, é preciso criar essa ponte de confiança e entendimento. Em algumas ocasiões, é possível recorrer ao ajudante de campo para sinalizar a necessidade de um ajuste. O importante é garantir que, no momento do clique, tudo esteja em perfeita harmonia: postura, indumentária, expressão facial e linguagem corporal.
Outro ponto muitas vezes negligenciado é a forma como se fotografa o ‘’Chefe’’ durante os discursos. Um ‘’Chefe’’ que está a falar em público transmite emoção, convicção e presença. A imagem captada deve refletir isso. No entanto, tenho observado com preocupação que há fotografias em que a figura aparece com a boca fechada no meio de um discurso, o que não transmite acção, nem fala, nem envolvimento. A imagem torna-se fria, parada, sem o dinamismo próprio de uma fala. É fundamental controlar os movimentos labiais, os olhos e os gestos das mãos, que muitas vezes dizem tanto quanto as palavras.
Os gestos, aliás, são elementos poderosos da comunicação visual. Uma mão estendida, um punho cerrado, um dedo apontando com elegância tudo isso fala, emociona, inspira. O fotógrafo oficial deve estar atento a esses momentos para captá-los com precisão e sensibilidade.
Em resumo, não somos meros fotógrafos de ocasião. Somos construtores de imagem pública, guardiões da memória institucional e agentes visuais da diplomacia. Cada fotografia que produzimos deve ser pensada como um documento histórico, carregado de simbologia e intenção. Não basta tirar uma boa foto: é preciso contar a história certa, da forma certa, no momento certo.
E isso começa pelo detalhe mais simples: zelar, com respeito e cuidado, pela imagem daquele que representa a nação.