O fotojornalista: o profissional esquecido nas redacções
Nos últimos tempos, tem se tornado comum ver jornalistas irem ao campo sem a companhia de um repórter fotográfico. O que deveria ser uma dupla inseparável entre o texto e imagem vem sendo tratado com descuido e até com desvalorização.
Muitos repórteres preferem ir sozinhos para recolher material noticioso e, só depois, pedem ao fotógrafo que se desloque ao local para “cobrir” entrevistas já feitas ou assuntos já passados. Pior ainda: alguns realizam entrevistas por telefone e, mais tarde, solicitam que o fotógrafo faça imagens apenas para “ilustrar” uma história que perdeu o contexto do momento.
O resultado é evidente: as fotografias deixam de ser testemunho do acontecimento e passam a ser meras ilustrações, esvaziadas de significado jornalístico.
Outro problema grave é a exclusão dos fotógrafos em deslocações fora da cidade ou do país. A desculpa recorrente é a “falta de fundos”, mas a mesma regra não se aplica às equipas de televisão, onde nenhum jornalista viaja sem o seu cameraman. Nas redações de imprensa escrita, porém, o fotógrafo é facilmente deixado de lado, como se a narrativa visual fosse dispensável.
Há ainda situações em que o repórter leva consigo uma pequena câmera ou até um telemóvel, acreditando que bastará alguns cliques rápidos para substituir o trabalho do fotojornalista. O gesto é revelador de uma incompreensão profunda sobre o papel da fotografia no jornalismo.
Um repórter fotográfico não é um “tirador de fotos”. É um profissional que pensa enquadramentos, luz, narrativa visual e, sobretudo, contexto. A fotografia jornalística não se resume a ilustrar, mas a testemunhar e acrescentar camadas de informação que o texto sozinho não alcança.
Quando se retira do fotojornalista a presença no terreno, retira-se também do público o direito de ter uma visão completa do acontecimento. O jornalismo fica manco, reduzido, e a credibilidade da própria notícia sai prejudicada.
É preciso questionar: se a televisão não abre mão do cameraman, por que a imprensa escrita insiste em marginalizar o fotógrafo? A resposta talvez esteja na falta de compreensão das chefias e dos próprios repórteres sobre o valor real da fotografia no jornalismo.
A solução exige mudança de mentalidade. O fotojornalista não deve ser tratado como um apêndice, mas como parte central da cobertura. Ignorá-lo é empobrecer o jornalismo e, no fim, desrespeitar o leitor.
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