Quando a luz volta a brilhar
Quando chegam os ventos fortes e as chuvas pesadas, as grandes torres de energia caem no mato como se fossem brinquedos. De repente, tudo fica em silêncio e escuro. As famílias passam noites sem luz, as mães veem a comida estragar-se, os comerciantes perdem os seus produtos, e nos hospitais os doentes ficam sem os aparelhos que salvam vidas. É um sofrimento que toca a todos.
Em lugares de difícil acesso, a espera é ainda mais longa. As pessoas atravessam rios, ajudam a carregar material e caminham quilómetros para apoiar quem trabalha na reposição da energia. Cada gesto, cada esforço, é feito com a esperança de ver a luz voltar.
“Ficámos 20 dias sem luz. As crianças choravam à noite e parecia que o mundo tinha parado. Cozinhávamos à luz da fogueira e não sabíamos como conservar a comida. Quando vimos homens a carregar material pelo mato, sentimos que a vida estava a regressar”, conta Maria Nhachungue, residente em Tete.
Outro morador, José Mucavele, recorda os dias de escuridão: “Passávamos as noites acordados, com medo que os ladrões aparecessem. Sem luz, tudo fica perigoso. Quando finalmente a corrente voltou, a aldeia inteira gritou de alegria. Foi como se tivéssemos vencido uma guerra.”
De norte a sul, estas histórias repetem-se sempre que ciclones ou tempestades derrubam torres e deixam comunidades isoladas. O sofrimento é grande, mas também mostra a força e a união do povo que, mesmo em meio à escuridão, nunca perde a esperança.
Texto e fotos: Carlos Uqueio, publicado no jornal Noticias, 20/09/2025
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