Inteligência Artificial não faz história, fotojornalistas fazem
Por: Carlos Uqueio
No dia 19 de Agosto, o mundo volta o seu olhar para a fotografia. Para muitos, é apenas mais uma data comemorativa; para nós, que vivemos com a câmera ao peito e a alma pronta para contar histórias, é um momento de reflexão profunda. É o dia em que reafirmamos que a fotografia e, em particular, o fotojornalismo não morreu e não morrerá.
Engana-se quem acredita que o desaparecimento físico de gigantes como Ricardo Rangel e Kok Nam, ou a reforma de mestres como Amadeu Marrengula, Alfredo Mueche, Naiga Ussene e outros, significou o fim desta profissão. Pelo contrário, foi o início de um novo capítulo, em que a responsabilidade recai sobre ombros que continuam firmes e corajosos.
Hoje, o fotojornalismo moçambicano vive e respira através de profissionais que carregam a cruz desta missão com dedicação e coragem. São nomes como Inácio Pereira, Félix Matsinhe, Jerónimo Muianga, Sérgio Manjate, Celso Macassa, Mauro Vombe, Ferhat Momad, Victor Marão, Luísa Nhantumbo, Jorge Tomé, António Cossa, e eu próprio, Carlos Uqueio, entre outros que, diariamente, se colocam entre a notícia e o silêncio, entre a realidade e o esquecimento.
Carregar a cruz do fotojornalismo não é apenas estar presente nos momentos históricos ou de maior impacto. É suportar o peso da responsabilidade de mostrar a verdade, mesmo quando ela incomoda, mesmo quando o mundo prefere fechar os olhos. É acordar antes do sol e regressar depois que a cidade adormece, com a certeza de que cada imagem captada pode influenciar consciências, despertar empatia e escrever a história.
Vivemos numa era em que a tecnologia avança a passos largos. As câmeras tornaram-se mais rápidas, os telemóveis mais sofisticados e, agora, a inteligência artificial promete criar imagens perfeitas em segundos. Mas perfeição não é sinónimo de verdade. Uma máquina pode inventar um cenário convincente, mas não pode sentir o calor de uma lágrima que escorre, o peso do silêncio após uma tragédia, ou o pulsar da vida numa rua movimentada.
O fotojornalismo é mais do que uma técnica: é presença, é testemunho, é humanidade. Não há algoritmo que substitua o instinto de um repórter ao perceber que a história está prestes a acontecer, nem há software capaz de compreender o contexto humano por trás de um olhar.
O Dia Mundial da Fotografia é, por isso, mais do que uma celebração. É um grito de resistência. É a reafirmação de que, enquanto existir alguém disposto a colocar-se entre a lente e a realidade, o fotojornalismo continuará a ser a luz que nenhuma sombra seja tecnológica ou social conseguirá apagar.
O futuro? Será, certamente, desafiador. Mas a essência da nossa profissão está blindada contra modas, tendências ou ameaças tecnológicas. Porque a fotografia não é apenas feita de pixels e luz. Ela é feita de verdade. E a verdade, tal como o fotojornalismo, resiste ao tempo.
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