terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

                                                 A lição do Dr. Leonardo Simão


Texto de Anabela Massingue, publicado na edição do dia 20 de Fevereiro 2023,Jornal Noticias

MUITAS vezes trilhamos um longo caminho entre colegas, quer na escola quer no trabalho, sem nos conhecermos ao certo. Praticamente fazêmo-lo em surdina, mesmo falando todos os dias uns com os outros. A caminhada é, às vezes, feita às cegas com uma dose de ilusão, sobretudo depois de descobrirmos que o nosso ou nossa  companheira da labuta não é o que sempre pensávamos que fosse.

Vem o introito a propósito de uns curtos, mas ricos minutos de conversa que acompanhei entre o antigo ministro da Saúde ou dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, como preferirmos, o Dr.Leonardo Simão e o fotojornalista da Sociedade do Notícias, Carlos Uqueio, que comigo fazia a equipa de trabalho.

Tudo aconteceu na sala da Fundação Joaquim Chissano, para onde eu e o Uqueio fomos entrevistar o Doutor Leonardo Simão. A ideia era para ouvir a sua sensibilidade em relação aos progressos científicos, levados a cabo pela Fundação Manhiça, através do seu Centro de Investigação em Saúde, o CISM.

Durante a entrevista os clics do Uqueio aconteciam continuamente. Afinal era essa a sua parte no trabalho. No fim da “conversa” foi a vez do nosso entrevistado fazer algumas perguntas ao fotojornalista. No início parecia algo a despropósito, mas por uns instantes descobri que se tratava de uma conversa rica de conteúdos, pois pude conhecer o outro lado do Uqueio, colega com quem palmilho a casa de profissão, há uns bons pares de anos.

O Dr. Simão quis saber o que inspirou o jovem a optar pela fotografia. Foi daí que fiquei a saber que houve um ídolo, cuja influência falou mais alto, ao ponto de Uqueio preterir outras habilidades adquiridas na formação, como o professorado em língua inglesa.

Soube igualmente que ele democratizou o seu conhecimento, dando o “BABA” da fotografia numa escola da Praça. Mas clicar, no dia-a-dia e comunicar por via da fotografia é o seu forte e, mais do que isso, uma paixão. Afinal, não há melhor coisa que a gente fazer e abraçar o que gosta.

Mais do que saber do lado profissional de Uqueio, a curiosidade de um dos homens da medicina e da diplomacia moçambicana chegou até às origens do fotógrafo, ao que explicou ser de Chicumbane, lá para as bandas do Xai-Xai, actualmente distrito do Limpopo.

Porque as coisas muitas vezes não caem do nada, foi dai que Simão nos revelou que Chicumbane foi a sua porta de partida na iniciação da carreira de médico de clínica geral.

Ele guarda boas recordações da sua passagem por Chicumbane, onde trabalhou em contacto geral com os pacientes, sem barreiras linguísticas, tal como acontece com muitos profissionais chamados a servir o país fora, pois ele é natural da província de Gaza.

Lamentei não ter lá ido preparada para ouvir um pouco da sua sabedoria e experiência, porque certamente sairia enriquecida em termos de assuntos. Em jeito de despedida e a acompanhar os visitantes, o Dr. Simão disse-me que não teria nada porque ele era uma fonte de informação que já tinha secado.

Só que, mesmo em tempos de secas severas, há quem consegue água para beber e dar de beber aos outros. Esta é uma prova de que o Dr. é uma fonte inesgotável, que inspira e, em segundo, dá lições de como as pessoas devem ser e estar, conhecendo-se, mutuamente, uma vez partilhando mesmos espaços, o dia-a-dia.

Muito obrigada por esta lição!   

domingo, 25 de dezembro de 2022

                                                   Níger: doí sonhar...

 


Por Carlos Uqueio e Belmiro Adamugy

Publicado no Jornal domingo, 18/12/2022

Há qualquer coisa que fascina no deserto. Aquela imensidão de areia – quase um mar – tem algo inexplicável. Deve ser essa tal coisa que cativa gente a viver no deserto. Os Tuaregues, por exemplo, adaptaram-se e bem a viver naquele inóspito lugar. Mas não é só de areias que o deserto se faz; há casas convencionais, estradas e até plantas ornamentais... mas isso só se descobre quando se aterra em Niamey, a capital do Níger, um país “capturado” em 80 por cento pelo deserto de Saara. Entretanto, a vida encontrou cainhos para prosperar. As fotos de CARLOS UQUEIO mostram inequivocamente que a “riqueza” daquela país não está só nas línguas que se falam (árabe, fula, gur, songai, zarma, etc.) mas também no engenho humano para contrariar a oposição da natureza. O Níger é um dos países mais pobres do mundo, mas com uma elevada taxa de natalidade. Entretanto, como tudo na vida, os nigerinos encontraram a fórmula para a felicidade, embrulhados pela pobreza extremada por uma omnipresente “insegurança” político-militar  somada ao baixo índice de desenvolvimento sócio-económico. As imagens, procuraram mostrar alguns dos aspectos curiosos de um país que vai mudando ao sabor do vento do deserto. 



















domingo, 18 de dezembro de 2022

                                         No coração de Nova Iorque!


ESTIVEMOS em Nova Iorque através do nosso repórter de imagem Carlos Uqueio. E fotógrafo que é fotógrafo não resiste a um clique. Uqueio fotografou a cidade e captou a sua essência. Lê-se nas suas imagens que em Nova Iorque tudo é grande, como se vê nos prédios, nos veículos e nas pessoas que fazem da cidade um espaço de correria. Talvez nisso se encontre alguma semelhança com a nossa capital Maputo, pois em Nova Iorque também se não dorme, há sempre um trabalho por executar porque é também elevado o custo de vida. E a correria pode ser sinónima de fast-food (comida rápida), afinal esta é igualmente a terra do hambúrguer. Entretanto, é também uma cidade bela e repleta de luz, tanta luz que nos faz pensar que em Nova Iorque, provavelmente, não se dorme porque a noite é mais encantadora.

Por Carlos Uqueio & Lucas Muaga

Publicado no Jornal Noticias, 17/12/2022
















sábado, 10 de dezembro de 2022

                                Mais bravura, mais determinação!



A DEFESA da pátria, essa que não se delega e que necessita da contribuição de todo os cidadãos do país, é nos dias que correm cada vez mais urgente. Tudo por conta, principalmente, dos acontecimentos em Cabo Delgado, onde terroristas desestruturam vidas e sonhos.

Ainda assim, nada que desanime jovens imbuídos de espírito de participação e de pertença quando o assunto é honrar e defender o país. É o caso dos jovens oficiais das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), acabadinhos de graduar na Academia Militar Marechal Samora Moisés Machel, em Nampula. Sabem dos desafios do país e entregaram-se de corpo e alma a eles, formando-se numa área hoje mais exigente, porque para enfrentar os infames que em Cabo Delgado desestabilizam não só a província, mas a nação como um todo.

A graduação destes jovens oficiais aconteceu numa cerimónia dirigida pelo dirigente máximo das Forças de Defesa e Segurança do país, o Presidente da República, que exigiu das FADM união e bravura. Perante Filipe Nyusi, estes jovens reviram-se nessa exigência, prometendo precisamente o que lhes é exigido: a bravura no mais nobre interesse da pátria: a integridade territorial e todas as outras formas de integridade através delas garantida. As imagens que acompanham este textinho são um símbolo, o da esperança de que a bravura e a determinação destes jovens vão somar-se a dos que já estão no campo de batalha.

Publicado na Edição do dia 10/12/2022, Jornal noticias











 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

                                         Um adeus artístico a Atanásio Nyusi








 

É educado bem-dizer de quem se parte. Por razões religiosas ou de pudor dos perecidos só se diz o bem. Quer dizer, quase sempre. Nestas linhas não estamos no quase nem a alinhar pelos bons costumes, para falar do Atanásio Nyusi. Sim, o Txoti da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), que de repente se foi esta semana.

Atanásio teve sempre uma maneira peculiar de ser e de estar, comprometido com o seu “eu” que era o de artista dedicado e pronto para dar o máximo de si em prol da cultura, primeiro a da sua tribo, os makonde do planalto de Mueda, e a do seu país. Fê-lo na CNCD durante décadas e fê-lo depois, quando, por conta da idade, como outros colegas, deu um ponto final à sua filiação ao primeiro grupo cultural profissional em Moçambique. Quando se aposentou da companhia, Nyusi continuou a ser homem de cultura, criando e apresentando, experimentando e sendo bem-sucedido na dança, na música, no teatro ou cinema, para onde também se aventurou.

Nos meios que integrou o artista sempre fez questão de revelar-se como quem tem por perfil ser um de muitos, dispensando o tapete vermelho e preferindo, antes, ser ele a estendê-lo para os outros. Também por isso foi amado, como o demonstraram os seus colegas da CNCD na hora do adeus, na quinta-feira em Maputo, no Hospital Militar.

A CNCD, onde Atanásio Nyusi deixou certamente saudades, marcou o momento, apresentando parte do que foi o convívio cultural e humano de décadas com o falecido artista, cujos restos mortais repousam agora no Cemitério de Michafutene.

Texto publicado no Jornal noticias, 03/12/2022