quinta-feira, 18 de novembro de 2021

                                             Maputo à noite




Por:Belmiro Adamugy & Carlos Uqueio

 Se depois de passar o dia ocupado com os afazeres do quotidiano ainda sobrar forças para apreciar a noite, a cidade de Maputo oferece vários atractivos, mau grado a pandemia causada pelo novo coronavírus, condicionar em demasia a vida. As opções vão desde restaurantes com menus de dar água na boca e locais para ouvir música, enquanto se bebe uma cerveja bem gelada e outros cocktais, para além de conversar com amigos e familiares.

 

A noite chega tingindo de cinza os prédios e as gentes. As luzes, dos postes e da montras, iluminando a floresta de concreto, conferem aos rostos dos transeuntes um ar misterioso. Curiosamente, enquanto o grosso das pessoas corre para o aconchego e segurança das suas casas, também há os que despertam do sono diurno com fome de viver. A cidade, aos 134 anos, se renova. A escuridão chega de mansinho. A cidade que celebra a luz, vê as sombras agigantarem-se.

 

Maputo, já foi Lourenço Marques. O município foi criado em 1875, e elevado a categoria de cidade em 10 de novembro de 1887. A sua importância estratégica fez com que em 1898 a capital fosse transferida da Ilha de Moçambique para a então Lourenço Marques.

 

É essa mesma cidade que hoje é cantada a plenos pulmões pela Sheila Jesuita na canção Maputo Tem”: “Em Maputo também tem Xipamanine, Chamanculo/Tem Maxaquene/Tem a zona com a malta sentada lá no muro”. Noutro momento sibila que “Em Maputo tem aquela titia das badjias/Com muitos fiosses na Bacia/Maputo só sabe quem te vê”.

 

Mas há uma outra Maputo que só sabe quem a vê quando a noite cai. Essa, já não tem tanto Chapa 100 e nem a Zinha com a magumba de 100. É uma cidade fantasmagórica, em muitos dos seus cantos. Ali, por exemplo, na “Laurentina”, onde de dia mal se vê o chão por causa da quantidade de gente e coisas estendidas nos passeios, quando a noite cai, reina ali um silêncio de cortar à faca.

 

E o domingo descobriu um fenómeno “novo”; as pessoas que trabalham na zona baixa da cidade e que precisam de apanhar o “chapa 100”, juntam-se em grupos para poderem subir a “Guerra Popular” até a Av. 24 de Julho com alguma segurança. Dizem que nas sombras, escondem-se perigos vários.

 

Mas é nas sombras, mais exactamente nas entradas dalguns prédios, ou vãos de escadas que outros buscam repouco. É vê-los um pouco por toda cidade. Alguns são guardas em serviço; outros, apensa desabrigados que, em papelões buscam aquecer os seus já maltratados corpos.

A noite, Maputo oferece, ainda que timidamente, muito por culpa da Covid-19 e das restrições afins, tem alternativas para todos os gostos e embora nos fins de semana os lugares fiquem mais movimentados, também há boas opções para sair durante a semana.

A baixa, com a Feira de Maputo, tem vários bares e casas noturnas. Por ali, você pode curtir os shows de ilustres desconhecidos que procuram atrair clientes interpretando êxitos de outros artistas, dançar um pandza ou passada, ou bebericar alguma coisa.  Muita gente também frequenta as zonas escuras das ruelas da baixa procurando opções para um happy hour.

Nessa busca, é só parar o carro que muitas trabalhadoras de sexo, cada uma a seu jeito, se aproximam e sem pejo na lingua, falam dos preços e outras nunaces. Depois, cliente e trabalhadora, refugiam-se em parques de viaturas quando não são engolidos pelas escadas das pensões e hoteis ali na zona da “Bagamoyo”. Aquela é uma parte obscura da cidade que a mantém pulsante durante a noite. Há um mundo a parte naquela zona encaixada entre a Praça 25 de Junho e a desertica Praça dos Trabalhadores.

Alguns polos gastronômicos e de bares criados na cidade também são interessantes para viveralguns momentos a noite, especialmente se você é daqueles que prefere sitios movimentados. Desses polos gastronômicos há uns que são mais frequentados do que outros mas, o que é comum entre eles, é a boa música que jorra aos borbotões para gaudio dos comensais que, nalgumas vezes, acabam falando um bocadinho mais alto… sem que isso incomode os demais. Interessante!

Há também um fenómeno que não sendo novo, ganha espaço: a transformação de residências em galerias, restaurantes e ou bares. Estão um pouco por toda a cidade, incluindo a chamada zona nobre. Nesse locais, juntam-se pessoas àvidas de relaxar um pouco.

A cidade que em 1841-1844 tinha apenas 19 casas de madeira e zinco e só muitos anos depois testemunhou a construção das primeiras casas de alvenaria, tem hoje prédios com mais de 20 andares espalhados por todos os lados… e outros estão sendo construidos a um ritmo capaz de fazer o próprio Lourenço Marques revolver-se na tumba.

 

A noite lugares de interesse turístico - e são bastantes - que contam um pouco a história não só do nosso país, mas sobretudo da própria cidade, ficam silenciosos. Isso contrasta, naturalmente, com a maneira de ser das gentes daqui… é que apesar das dificuldades, somos um povo alegre.

A Fortaleza da Nossa Senhora da Conceição ou Fortaleza de Maputo, onde é possível ver de perto o caixão com os restos mortais de Ngungunhane, o imperador de Gaza, tem um interessante acervo histórico, incluindo uma imponente estatua de Mouzinho de Albuquerque, captor do primeiro.

Claro que, tanto a Fortaleza, como o Museu de História Natural, o Centro Cultural Franco-Moçambicano, a Fundação Fernando Leite Couto ou o Centro Cultural Brasil-Moçambique tem de ser visitados `luz do dia. A noite, são silenciosos, quase fantasmagoricos. É tanta ausência de vida… vale o mesmo para o imponente edifício da Estação dos Caminhos de Ferro… a luz frontal, confere ao lugar um ar misterioso. Mesmo a noite, dá a impressão de se ouvir ao de longe, o silvo dos comboios. Magia da noite!

Outros locais que fervilham de dia, mas a noite quedam-se silenciosos - sem perderem a majestade - são o Mercado Central, obra de David de Carvalho, inaugurado em 1901, o Mercado de Peixe e o incontornável Feima, a Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo. Desenhada pelo frances Gustavo Eiffel, em 1882, a Casa de Ferro, junto do Jardim Botânico Tunduru (criado em 1885 pelo paisagista inglês Thomas Honney), lembra-nos que há mais para ver apesar da ausência do sol.

Subindo, em direcção ao belíssimo edificio do Conselho Municipal, a ampla praça acolhe a estátua do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, falecido em 1986 num acidente de aviação, tendo à ilharga a Sê Catedral. O conjunto dá uma imagem interessante, sobretudo pelo jogo de luzes ali instalado.

E falando de catedrais, vale a pena ver na calada da noite a silenciosa Igreja católica St. António da Polana, a Mesquita da baixa - Jumma Masjid - ou a Mesquita Central de Maputo - Masjid Taqwa - que cortam os ares com as suas formas peculiares. Há uma bebeza que só é possível usufruir quando o sol recolhe e o movimento de pessoas reduz-se ao mínimo possível… até porque as noites são usadas também para obras de manutenção das nossas maltratadas estradas…

Hortêncio Langa, no seu poema sobre a cidade, disse qualquer coisa como “O Índico é uma janela aberta/A novas descobertas”, antes de proclamar “Quem te abraça/ não te larga mais”. Pois é poeta-cantor, quem passeia pela “Marginal”, desde o embarcadouro até a Aldeia dos Pescadores, pode confirmar a magia de Maputo. De um lado, as águas do mar e, do outro, edifícios imponentes…e uma série de lugares para degustar iguarias marinhas sem paralelo.

Porém, a cidade tem cada vez menos espaços para o teatro e cinema. Salas como Cine África, Gil Vicente ou Charlot “renderam-se”; já não acolhem eventos… e nem é por causa da pandemia mas da incuria dos homens. Triste. Aqueles espaços, tanto de dia, como de noite, são sombras de um passado glorioso. Ficaram só memórias nas cinzas de uns e nas paredes de outros.

Sobra ainda o “Avenida” e o “Gilberto Mendes”. A antiga Associação Cultural Txova Xita Duma cedeu e agora o espaço está a crescer em altura. Está a nascer um edificio ali. As artes e cultura, minguam na nossa cidade embora, nas mesmas bandas, o Núcleo de Arte continue a remar contra a maré.

A mesma cidade que tem prédios de vidro, está impregnada pela magia de Xipamanine, Mafalala, Urbanização, Maxaquene, Albasine, Laulane que, quando o sol volta, largam - como abelhas que se libertam das colmeias - milhares de pessoas que cruzam as arterias da cidade para emprestarem o seu saber e suor para que a cidade renasca das sombras da noite. E o ciclo se encerra, ao mesmo tempo que recomeça. É Maputo!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

                                          Vender comidas com riscos à saúde


Texto:Lucas Muaga

Fotos: Carlos Uqueio

Publicado in ´´Noticias´´, conversas aos sábados 

EM tempos do novo coronavírus, há que redobrar os esforços na prevenção, cumprindo rigorosamente as medidas estabelecidas pelo Governo e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tais como a lavagem das mãos, o distanciamento físico e o uso da máscara de protecção. Infeliz e, em muitos casos, involuntariamente, muitos vendedores informais de comidas e seus clientes fecham os olhos para estas imposições, conforme ilustram as fotos captadas pelo nosso colega da Redacção Carlos Uqueio. Os clientes preocupam-se mais em sentir o sabor do alimento e encher o estômago, do que com as consequências deste acto para a saúde pública. Eles não higienizam as mãos antes de tocar e consumir estes produtos, dando mais sentido à ideia destes serem os famosos “pronto a comer”. Fora disso, estes alimentos ficam durante muito tempo expostos às moscas, diferentes temperaturas e poeiras, colocando os clientes em risco de contrair várias outras doenças. Entretanto, frisamos que esta reflexão não visa desencorajar a venda informal, mas tão somente alertar o perigo iminente à saúde pública. 










  

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 O acesso a água é um direito humano!









Texto:Lucas Muaga

Fotos:Carlos Uqueio

“Sem água não há vida”, diz um adágio popular sobre o qual não é preciso uma grande reflexão na tentativa de descodificá-lo, pois onde este recurso é escasso assiste-se um drama humano sem precedentes. Então, a água é um recurso cujo acesso deve ser prioritário e considerado um direito humano, sendo que é nossa opinião que não devendo ser distribuída à população gratuitamente, que seja vendida a preços acessíveis. Podemos aqui ironizar que ela deve estar sempre em promoção! Que assim seja se a ideia é evitar problemas de saúde pública e minimizarem-se já muitos dilemas da vida. Deste modo, não assistiremos a triste episódios como este que é agora relatado pelas imagens captadas pelo nosso colega de imagem Carlos Uqueio. As fotos foram tiradas em Boane e mostram o quanto a população desta zona muito depende do rio para continuarem com as suas vidas. Ela praticamente mora no rio o qual usa as suas águas para quase tudo: beber, cozinhar, lavar e até se divertirem. Entretanto, por detrás disto tudo há um acontecimento lamentável, os cidadãos em causa alegam que a água canalizada nas suas casas é demasiadamente para os seus bolsos. Não consegue pagar por ela! Achamos que não basta colocar as torneiras nas casas, é necessário motivar os consumidores a abri-las, mostrando-a com preços e acções de sensibilização que a água é não é para privilegiados. Antes, é um direito humano!   


 CARLOS UQUEIO: FOTOJORNALISTA DO domingo HÁ 7 ANOS





Gosto de fotografar pessoas desamparadas

 

Texto:CAROL BANZE

 Não basta inventar a máquina, é preciso ‘entrega-la’ na mão de quem a  sente com o coração.  Entenda-se, portanto, que “o fotógrafo idealiza a fotografia. Ela começa da mente, do cérebro, depois vai para o olho, depois para o coração”, diz Carlos Uqueio, fotojornalista. É pois no coração onde tudo termina, mas também inicia. Deste modo a fotografia ganhou espaço na vida deste moçambicano, pai do Carson, natural e residente em Maputo. Iniciou a carreira na fotografia em 2007, pela mão do vizinho, Bernardo Obadias, “que me convidou para ser seu ajudante, quando fotografávamos casamentos, aniversários, baptismos, etc.”.  É formado em Química analítica, pelo então Instituto Industrial e Comercial da Matola; em ensino de Inglês pelo Instituto de Formação de Professores da Matola; em fotografia, pelo Centro de Documentação e Formação fotográfica, e camera-man e edição de video, pela Academia de Comunicação.

 

 

 

Como define fotografia? 

Fotografia é o retrato da alma. Quando vejo as fotos que faço ou dos meus colegas, consigo ver o pensamento e o sentimentos que quisémos transmitir naquele momento. Eu consigo expressar os meus sentimentos, positivos ou negativos: alegria; angústia.

A sua relação com a máquina fotográfica é afectiva….

Bom, o que eu sei é que a fotografia parte do interior. O fotógrafo idealiza-a. Ela começa da mente, do cérebro, depois vai para o olho, depois para o coração….

Estamos a falar de um trajecto até se chegar ao produto final.

Sim, sim. E nesta minha relação com a máquina fotográfica é como se ela fosse mais um membro do corpo humano. Um membro extra que completa a fotografia.

Vejo que ela é vital para a sua existência, como ser humano.

Muito importante, pois através da fotografia eu conto histórias. Se formos a ver, num contexto geral, ela é importante para o registo da vida de uma nação. Por exemplo, temos fotografias do nosso saudoso Presidente Samora Machel. Os que não o conheceram passam a conhecê-lo. Um  facto a destacar em torno desta importância, é que até a estátua de Samora Machel implantada na cidade de Maputo é originalmente uma fotografia. O artista que desenhou a estátua baseou-se na fotografia.

Podemos afirmar que o fotógrafo é membro activo da sociedade?

Sim, e para além da história política, entramos igualmente nas famílias, para registar vários momentos, apesar de, hoje dia, qualquer um poder recorrer às tecnologias.

Não é qualquer um que pode fotografar?

Todo mundo pode, até uma criança de 2 anos, com os telefones inteligentes. Mas, na fotografia existem categorias: o profissional é quem tem mais domínio, mais técnica.

E isso faz toda diferença....

Faz. Vou dar um exemplo, falando de outro aspecto. Vou falar de mim, como repórter fotográfico. Na rua há muita coisa que acontece, o que chamamos de ‘soltas’. Mas, nem toda gente consegue captar. Podemos sair em grupo e somente eu conseguir  fotografar um detalhe que escape aos outros. É a partir daí que reforçamos a parte que diz: “todo mundo pode apertar o botão da máquina fotográfica, mas é preciso ter olhar de lince. É o que marca diferença entre um amador e um profissional. Fora que as tecnologias vieram prejudicar a quem vive disto. Falando de mim, a fotografia é que me alimenta, sustenta a minha família, paga as minhas contas.

Fotografar é uma arte?

Sim, porque envolve inspiração, que se cultiva de várias formas: lendo livro, vendo filmes.

A criatividade cultiva-se, não é?

Sim, cultiva-se, e a fotografia é resultado do que vemos, ouvimos e falamos. É o retrato do nosso dia-a-dia.

Qual foi a sua pior fotografia?

- (Risos). Não olharia nesses termos, mas a cada dia que passa, olho para trás e vejo algumas sem grande impacto, porque  uma evolução. Olho e penso: “nesta fotografia, se eu tivesse ficado num outro ângulo mais adequado, teria obtido melhor clique”.

E pode eleger  ‘A FOTOGRAFIA de sua autoria?

A de um senhor que encontrei deitado por cima de um gerador. Debaixo da sua cabeça tinha uma bíblia.

Qual foi a interpretação que você fez?

Primeiro, deixa-me dizer que o senhor não estava isolado, passava gente por ali. Passou-me pela cabeça que a sociedade deve ter consciência de ajudar a quem precisa. Precisamos de ser solidários. Aquele homem poderia até passar por doente mental, não sendo. Poderia se tratar de um desamparado. E eu gosto de fotografar pessoas desamparadas.

Porquê?

Porque perdi o meu pai numa altura em que eu era muito jovem. Nesse momento, ninguém me ajudava financeiramente e nem emocionalmente. Eu não tinha ninguém. Às vezes, eu saía do internato (morou no internato da escola), isolava-me, ficava de cabeça apoiada no braço… podia-se pensar que eu era um doente mental, mas não era (…) o meu pai foi meu grande amigo, apoiava-me em tudo. Por isso fotografo para mostrar o que senti naquela altura.

 Que espaços as suas obras já alcançaram?

Ela é também conhecida em alguns países, sobretudo através das redes sociais. Há 4 anos fui convidado para fazer uma exposição no Brasil, mas não chegou a acontecer porque eu estava numa missão de trabalho no Vietname. Mas tenho admiradores em Angola, amigos com quem troco palavras, ideias e promessas de nos vermos após o controlo da pandemia.

Já expôs em Moçambique?

Individualmente não, mas já participei em várias exposições colectivas, uma delas é World press photo, subordinada ao tema “Crenças e religiões”.  Tenho projecto de expor individualmente, porque o meu sonho é ser um fotógrafo de referência ainda jovem ao nível nacional e internacional.

A sua profissão já lhe trouxe dissabor?

Sim. Recordo-me de certa vez que saí para fotografar, numa reportagem feita com André Matola. Pretendíamos destacar, nessa altura, o trabalho positivo desenvolvido pela Polícia de Trânsito (PT) nas estradas da cidade de Maputo.  Estava em frente ao Cinema Scala e, de repente,  apareceu um PT de motorizada, ficou diante de mim e questionou o que eu estava a fazer. Expliquei-lhe, mas não o convenci, pelo que chamou um carro de patrulha. Nesse momento, o Matola estava a tomar um café. Liguei-lhe e disse que estava numa ‘encrenca’. Tive medo que me tirassem a câmera, por isso tirei o cartão e escondi. Quando apareceu o carro, levou-nos até à primeira esquadra, onde fomos identificados e tivemos de nos explicar. Passado algum tempo, deixaram-nos ir embora.

Perguntas corridas

 

Uma reportagem fotográfica?

Yo Mabalane

Um fotógrafo?

- Alfredo Mueche.

Um lugar ou coisa que te inspira?

Gosto muito de ver machambas.

Uma paixão?

Máquina fotográfica.

Quando teve a sua primeira?

 

Em 2010, a analógica.

 

Uma máquina fotográfica?

- Nikon.

Uma desilusão?

Desonestidade de algumas pessoas.

 

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

... Colocam os carros a brilhar!

POLIR os carros até ao ponto de parecerem novinhos em folha passou a caracterizar o quotidiano de muitos moçambicanos, sobretudo jovens. Eles estão posicionados em quase todos os cantos da cidade a procura de automobilistas que queiram manter as suas viaturas limpas e com um bom aspecto. Assim garantem o sustento das suas famílias e o valor necessário para custear as suas necessidades básicas. Ensinam que oportunidades são criadas e ninguém precisa de ficar sentado em casa a caluniar o governo devido à falta de emprego. Entretanto, não deixa de preocupar que alguns polidores contrariem os anseios daquele que neles confia para deixar o seu carro a brilhar, ao lavá-los com água suja, nalguns casos proveniente dos esgotos. Nada fica limpo com água suja! Pode parecer bonito, mas ser a fonte de muitos problemas de saúde. Outros, infelizmente, “furtam” o precioso liquido em instituições públicas e privadas, subornando os guardas. É pelo menos esse o relato trazido pelas imagens captadas pelo nosso colega da redacção Carlos Uqueio, que saiu à rua para registar o quotidiano dos polidores de viaturas.  

Texto:Lucas Muaga
Fotografia:Carlos Uqueio









sexta-feira, 6 de agosto de 2021


PANDEMIA DA COVID-19

Medidas de prevenção

violadas na calada da noite(Recolher obrigatório)

 

Aglomeração de homens e mulheres, cigarros, comidas e bebidas alcoólicas a rodos… Este é o ambiente desolador que se continua a viver nalguns bairros da cidade de Maputo, apesar dos apelos para a observância de medidas preventivas diante da pandemia da covid-19. 

domingo acompanhou as acções de fiscalização da Polícia da República de Moçambique (PRM) em alguns bairros da cidade de Maputo e relata episódios que testificam que, com raríssimas excepções, o decreto presidencial continua a ser pontapeado por alguns citadinos, mesmo numa altura em que o mundo reza para que os números de infectados e mortes baixem.

Tudo começou numa concentração no Comando Geral da PRM em Maputo, onde a instrução foi mandar fechar todos os estabelecimentos comerciais a funcionarem fora das horas previstas. A ronda policial visa também sensibilizar as pessoas a obedecerem a lei, advertir aos infractores para que cumpram com a lei bem como recolher os promotores da desordem, consumidores e vendedores de bebidas alcoólicas e seus produtos.

Sejam implacáveis; quem não quer estar na cela deve cumprir a lei, caso contrário bom trabalho”, instruiu José Homo, director da ordem a nível do Comando Geral da cidade.

Depois do protocolo, o efectivo composto por agentes das polícias de Protecção, de Trânsito e Municipal configurou as caravanas que se distribuiriam em todas as direcções da cidade de Maputo, conforme as rotas definidas.

domingo seguiu a equipa enviada a Chamanculo, bairro tido como um dos focos de aglomerados, consumidores de bebidas alcoólicas na via pública, entre outras infracções… ali, a Polícia flagrou estabelecimentos em pleno funcionamento fora das horas previstas.

Barbearias de estacas e zinco, barracas de manicure e alguns “take aways” na rua Dr. Lacerda e Almeida que atravessa o mercado Malanga funcionavam a todo o vapor, alguns dos quais com verdadeiros aglomerados.

No local, a Polícia recolheu 20 cidadãos que consumiam bebidas alcoólicas e os proprietários dos estabelecimentos. O grupo foi conduzido à 18.ª Esquadra da PRM para os devidos processos.

Naquela unidade, enquanto acompanhávamos a instauração de processos-crime dos 20 detidos, iam chegando outros indivíduos por razões diversas, desde a recusa de uso de máscara nos autocarros e outros flagrados a consumirem bebidas alcoólicas em diversos pontos.

Entre os que chegaram, estava uma jovem de 25 anos de idade, que disse que foi detida só porque estava na boleia de um colega do trabalho, onde outros ocupantes decidiram parar para tomar algumas cervejas, por ser  sexta-feira.

Outra cidadã, de 39 anos de idade, contou que o azar lhe bateu à porta quando estava a cuidar das unhas e dói-lhe o facto de o dono do estabelecimento ter escapado da detenção, pois pôs-se em fuga assim que notou a presença da Polícia.

Outra cidadã de 19 anos que está a contas com a Polícia é funcionária de “take away”. Ainda com sinais de medo, disse à nossa reportagem que normalmente fecha o estabelecimento na hora certa, mas naquele dia teve muita demanda e estava a preparar a última encomenda quando foi flagrada.

 

NA FISCALIZAÇÃO DA UIR

 

Noite adentro, domingo integrou ainda uma caravana da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e o primeiro ponto a escalar foi o bairro do Jardim, onde, por sinal, as operações anteriores tinham ajustado o comportamento dos agentes económicos.

As ruas daquela zona estavam tranquilas; antes da hora do recolher obrigatório já denunciavam algum vazio, não obstante a detenção de uma jovem que demonstrava euforia excessiva resultante do consumo de  álcool  na via pública.

Quanto aos pontos de venda, o ambiente era de total silêncio. A Polícia passou por um bar conhecido por protagonizar actos de desobediência, mas na altura estava mesmo encerrado. Cenário idêntico foi verificado nas barracas do Choupal.

 

DESMANTELADA DISCOTECA

CLANDESTINA NO BENFICA

 

O relógio marcava 21.00 horas quando a nossa reportagem na companhia da Polícia escalou o bairro George Dimitrov e o som estridente de música e gritos de alegria chamaram a atenção  dos agentes da Lei e Ordem.

A Polícia invadiu o local, alguns presentes tentaram escapar pelas janelas da improvisada  “discoteca”, mas  foram detidos 35 indivíduos entre homens e mulheres, todos embriagados, alguns dos quais mal conseguiam andar, bem como foi apreendida uma quantidade considerável de bebidas alcoólicas.

Em contacto com os detidos, domingo apurou que o local funciona como uma discoteca apelidada “Txila Night”.

O trabalho da Polícia continuou e no bairro do Zimpeto e, graças a uma  denúncia popular, foi possível desmantelar mais um local “escondido” numa residência para a venda e consumo de bebidas alcoólicas.

Os infractores intentarem manobras de fuga.  No acto da detenção, não se percebendo da presença da imprensa, a dona da casa tentou subornar a Polícia com dois mil Meticais, tendo sido recolhida com crime adicional no processo.

Durante a ronda, a equipa do domingo notou que na Estrada Nacional Número Um (EN1) até às 23.00 horas continuava a registar-se movimento de viaturas. A contrastar com esta realidade, a estrada circular estava vazia e silenciosa à semelhança de outras vias secundárias por onde foi possível fazer a ronda.

 

 

Venda e consumo de bebidas

continuam preocupantes

 

O porta-voz da PRM na cidade de Maputo, Leonel Muchina, fez um balanço positivo da operação. Entretanto, reconhece que a venda e consumo de bebidas alcoólicas continuam preocupantes porque mesmo com as barracas fechadas a prática continua.

As mesmas pessoas que vendiam e consumiam bebidas nas barracas continuam a fazê-lo, mas agora nos quintais”, disse.

Muchina explicou que com essas práticas as cadeias de transmissão continuam activas e cada vez mais fortes, pois são famílias que são infectadas, afectando toda a sociedade.

Apesar disso, a fonte refere que há avanços no âmbito de denúncias de populares. Segundo disse, no princípio as pessoas não entendiam a importância da denúncia, mas estão a perceber que a aceleração da propagação da doença, em parte, deve-se à irresponsabilidade de algumas pessoas perigando, consequentemente, os outros que até obedecem as regras. 


Texto: Eduardo Changule

Foto-reportagem: Carlos Uqueio 

Publicado in jornal domingo

01/08/2021