sábado, 20 de setembro de 2025

 Maziones:

Quando a fé se mistura ao som do batuque

Texto e fotos de Carlos Uqueio, publicado no jornal domingo

Logo ao amanhecer, quando a maré ainda lambe a areia da praia de Costa do Sol, grupos de homens, mulheres e crianças caminham em silêncio, vestidos de verde, azul, branco ou vermelho. São os crentes da Igreja Sião, mais conhecidos por maziones que, quase todas as quartas-feiras de todas as semanas, fazem da praia o seu templo. Ali, em contacto com o mar e o vento, buscam força, purificação e renovação espiritual.

O batuque, marca da identidade dos maziones, começa a ecoar logo cedo. O som grave acompanha os cânticos e dá ritmo às orações. Para quem passa de carro ou a pé, pode parecer apenas música. Mas, para quem está ali, é mais do que um som: é um elo com o divino, um chamado à presença de Deus e dos antepassados.

Apesar de serem parte da comunidade há décadas, os maziones ainda convivem com o preconceito. “Chamam-nos de vhaloi nzinwine, conta Paulo Almeida, fiel há 28 anos. “Mas são os mesmos que, na calada da noite, vêm pedir ajuda quando têm problemas que ninguém mais consegue resolver.”

O domingo foi ao encontro desse contraste que é parte da história desta seita: criticados em público, mas procurados em silêncio,mas os fiéis seguem firmes na sua fé.

 

                                  Quartas-feiras de renovação


Às quartas-feiras, a praia vira um espaço de encontro espiritual. O barulho do mar mistura-se com os cânticos, e os fiéis mergulham os pés na água num gesto de entrega. “Aqui sentimos a presença do Espírito Santo de uma forma única”, explica Maria César. “É como se a água levasse as nossas angústias e nos desse força para continuar.”

Para muitos, o mar é símbolo de limpeza espiritual, um ritual que renova não só a fé, mas também a disposição para enfrentar os desafios do dia a dia.

‘’Fembar’’: invocando ancestrais e expulsando o mal

Entre as práticas mais actuais e marcantes da Igreja Zione está o ‘’fembar’’, um acto de invocação espiritual que busca afastar espíritos maus ou aliviar o sofrimento de quem procura ajuda. No passado, os maziones actuavam de forma diferente: usavam a água salgada da praia, velas, oração e a Bíblia como seus principais “escudos” para curar, aconselhar ou expulsar demónios. Hoje, porém, já é comum ver alguns que, além desses métodos tradicionais, também recorrem ao ‘’fembar’’, prática antes associada apenas aos curandeiros, que consiste em invocar e “pegar” espíritos  sejam de antepassados ou espíritos maus  no corpo dos crentes, como parte do processo de libertação espiritual.

“Cada pessoa recebe um dom diferente”, defende Pastora Delfina, uma das crentes mais antigas nesta congregação. “Há quem tenha recebido o dom de curar, outros de aconselhar, outros de libertar. Existem até aqueles que nasceram com o dom para ser  curandeiro, mas, como os ‘’charas’’ não querem, acabam aceitando que eles trabalhem dentro da igreja, usando os rituais dos maziones. O importante é ajudar quem sofre.

                         Fé que resiste ao preconceito

Para os fiéis, a roupa e os batuques são símbolos de fé e compromisso espiritual. Para muitos vizinhos, porém, ainda são motivo de insultos e desconfiança.

Amanda Orlando,crente que encontrou na Zione apoio durante uma doença mental, diz que aprendeu a lidar com essas críticas. “Já me chamaram de feiticeira, mas sei o que esta igreja fez por mim e pelas minhas filhas. Essa força ninguém tira.”

E, ironicamente, são muitas vezes os críticos que, quando enfrentam dificuldades, acabam por pedir ajuda. “Quem chama nomes durante o dia, vem pedir oração à noite”, resume Amanda, com um leve sorriso.

                            Entre o mar, batuque e esperança

A fé dos maziones vai muito além da praia, mas é ali, entre o mar e a areia, que se fortalece a ligação com o sagrado. Cada onda que quebra parece lembrar-lhes da própria vida: em constante movimento, cheia de desafios, mas também de oportunidades de renovação. É nesse espaço aberto que encontram coragem para enfrentar o preconceito, lidar com as críticas e, acima de tudo, manter viva a prática de ajudar quem precisa, mesmo quando reconhecimento ou gratidão não chegam.

O batuque ressoa como um pulso colectivo que une a comunidade. Os cânticos, as orações e os gestos de entrega formam um ritual que mistura disciplina, fé e tradição, criando uma ponte entre o visível e o invisível. Ali, os fiéis encontram força para carregar os fardos do dia a dia, para enfrentar problemas pessoais, familiares ou espirituais, e para acreditar que cada desafio pode ser transformado com fé e determinação.

Mesmo diante do estigma, da desconfiança e das vozes que ainda os chamam de vhaloi nzinwine, os maziones seguem firmes. Eles sabem que, por trás das críticas, existe também a necessidade das pessoas de encontrar apoio, orientação ou consolo. No silêncio das noites, aqueles que um dia os julgaram acabam, cedo ou tarde, a bater à porta da igreja em busca de uma palavra, de uma oração, de um gesto simples que traga alívio, esperança ou paz.

E é justamente nessa persistência, nesse equilíbrio entre fé e prática, entre tradição e transformação, que a Igreja Zione se revela: não apenas como um espaço de culto, mas como um refúgio seguro, um ponto de encontro de almas que buscam renovação, e uma comunidade que aprende, a cada dia, a resistir às adversidades e a manter acesa a chama da fé.

 

















                                   Quando a lei se torna armadilha

Por: Carlos Uqueio

Há acontecimentos que, quando contados, parecem saídos de um filme policial mal-intencionado. Mas, infelizmente, são histórias reais que acontecem ao nosso lado, nos bairros e ruas que conhecemos bem.

Recentemente, um conhecido viveu uma situação que me fez refletir profundamente sobre a frágil linha que separa a segurança do abuso de poder. Ele caminhava para o trabalho, tranquilo, quando foi abordado por agentes da lei e ordem. Como cidadão exemplar, identificou-se e aceitou que revistassem a sua mochila. Tudo parecia dentro do normal, até que um dos agentes retira algo de dentro e pergunta com seriedade: “Senhor, o que é isto que carrega aqui?”. Para o seu espanto, tratava-se de droga, algo que ele nunca tinha visto antes. Tudo indicava que não estava ali antes da revista. Presume-se que tenha sido colocada de forma clandestina pelos próprios agentes, possivelmente com a intenção de o incriminar e exigir dinheiro para “resolver” a situação.

O que o salvou foi a intervenção rápida e firme do irmão, que conhecendo a sua conduta, não hesitou em confrontar os agentes. Entre palavras duras e ameaças de denúncia, conseguiu que recuassem. Um episódio que poderia ter destruído a vida de um inocente terminou ali, mas deixou uma ferida de desconfiança.

Infelizmente, não é um caso isolado. Eu próprio já passei por algo semelhante, mas no meu caso estava de carro. Pelo espelho retrovisor, vi um agente colocar algo estranho na parte traseira do veículo. Chamei-o e disse: “Eu vi o que colocou aí. Se não remover agora, vou denunciá-lo”. Ele retirou o objecto sem discutir e encerrou a abordagem.

Situações assim levantam uma pergunta dolorosa: quando aqueles que deveriam proteger-nos se tornam motivo de medo, a quem podemos recorrer? Uma polícia honesta, responsável e justa é essencial para qualquer sociedade. E é importante dizer que existem muitos bons agentes, profissionais dedicados que arriscam a vida todos os dias para manter a ordem. Estes merecem o nosso respeito e reconhecimento. Mas não podemos ignorar que há também aqueles que, com condutas erradas, mancham a imagem de toda a corporação e colocam em risco a confiança do público.

O maior perigo está na impunidade. Quando abusos não são investigados, punidos e corrigidos, abre-se espaço para que práticas ilegais se tornem “normais” dentro de certos círculos. Isso mina o contrato social entre cidadão e Estado, fragiliza a autoridade legítima e deixa o povo vulnerável a acusações falsas, chantagens e intimidações.

Por isso, é urgente que haja canais seguros e eficazes para denunciar esses abusos, proteção real para quem denuncia e investigações sérias, conduzidas com independência. O cidadão, por sua vez, deve manter a calma e agir com respeito mesmo em abordagens injustas, estar atento a cada movimento do agente, registar provas sempre que possível e conhecer os seus direitos para saber até onde a autoridade pode ir. Caso se depare com abuso, deve procurar denunciar através dos canais competentes.

No dia em que a lei se transforma numa armadilha, todos estamos em perigo. E um perigo que veste uniforme é ainda mais difícil de enfrentar. Mas enquanto houver cidadãos vigilantes e agentes íntegros dentro da corporação, ainda há esperança de que a segurança volte a ser sinónimo de proteção, e não de medo.

 

 Inteligência Artificial  não faz história, fotojornalistas fazem

Por: Carlos Uqueio

No dia 19 de Agosto, o mundo volta o seu olhar para a fotografia. Para muitos, é apenas mais uma data comemorativa; para nós, que vivemos com a câmera ao peito e a alma pronta para contar histórias, é um momento de reflexão profunda. É o dia em que reafirmamos que a fotografia  e, em particular, o fotojornalismo  não morreu e não morrerá.

Engana-se quem acredita que o desaparecimento físico de gigantes como Ricardo Rangel e Kok Nam, ou a reforma de mestres como Amadeu Marrengula, Alfredo Mueche, Naiga Ussene e outros, significou o fim desta profissão. Pelo contrário, foi o início de um novo capítulo, em que a responsabilidade recai sobre ombros que continuam firmes e corajosos.

Hoje, o fotojornalismo moçambicano vive e respira através de profissionais que carregam a cruz desta missão com dedicação e coragem. São nomes como Inácio Pereira, Félix Matsinhe, Jerónimo Muianga, Sérgio Manjate, Celso Macassa, Mauro Vombe, Ferhat Momad, Victor Marão, Luísa Nhantumbo, Jorge Tomé, António Cossa, e eu próprio, Carlos Uqueio, entre outros que, diariamente, se colocam entre a notícia e o silêncio, entre a realidade e o esquecimento.

Carregar a cruz do fotojornalismo não é apenas estar presente nos momentos históricos ou de maior impacto. É suportar o peso da responsabilidade de mostrar a verdade, mesmo quando ela incomoda, mesmo quando o mundo prefere fechar os olhos. É acordar antes do sol e regressar depois que a cidade adormece, com a certeza de que cada imagem captada pode influenciar consciências, despertar empatia e escrever a história.

Vivemos numa era em que a tecnologia avança a passos largos. As câmeras tornaram-se mais rápidas, os telemóveis mais sofisticados e, agora, a inteligência artificial promete criar imagens perfeitas em segundos. Mas perfeição não é sinónimo de verdade. Uma máquina pode inventar um cenário convincente, mas não pode sentir o calor de uma lágrima que escorre, o peso do silêncio após uma tragédia, ou o pulsar da vida numa rua movimentada.

O fotojornalismo é mais do que uma técnica: é presença, é testemunho, é humanidade. Não há algoritmo que substitua o instinto de um repórter ao perceber que a história está prestes a acontecer, nem há software capaz de compreender o contexto humano por trás de um olhar.

O Dia Mundial da Fotografia é, por isso, mais do que uma celebração. É um grito de resistência. É a reafirmação de que, enquanto existir alguém disposto a colocar-se entre a lente e a realidade, o fotojornalismo continuará a ser a luz que nenhuma sombra  seja tecnológica ou social  conseguirá apagar.

O futuro? Será, certamente, desafiador. Mas a essência da nossa profissão está blindada contra modas, tendências ou ameaças tecnológicas. Porque a fotografia não é apenas feita de pixels e luz. Ela é feita de verdade. E a verdade, tal como o fotojornalismo, resiste ao tempo.

 

                     Elvira Viegas encanta no Centro Cultural Moçambique-China

Na noite de 29 de agosto, o Centro Cultural Moçambique-China foi palco de um espetáculo memorável protagonizado pela cantora Elvira Viegas. Com uma presença cativante e uma voz que atravessa fronteiras, a artista brindou o público com um concerto intimista, mas ao mesmo tempo carregado de energia e emoção.

A sala encheu-se de admiradores que acompanharam, entre aplausos e coros, os temas que marcaram diferentes fases da carreira de Viegas. O repertório transitou entre sonoridades tradicionais moçambicanas e influências contemporâneas, reafirmando a versatilidade e a autenticidade da cantora.

Mais do que um simples concerto, o evento transformou-se numa celebração da música nacional, num espaço de diálogo cultural que aproximou gerações e estilos. Elvira Viegas mostrou, uma vez mais, porque é considerada uma das vozes de referência da música moçambicana.





















sábado, 6 de setembro de 2025

                                                      PAINDANE

Lugar onde o mar acalma a alma


Por: Carlos Uqueio, publicado no jornal noticias, 6/09/2025


PRAIA de Paindane, na província de Inhambane, é um daqueles lugares que encantam logo no primeiro olhar. Os barcos pousados sobre a areia branca e o som das ondas criam um ambiente tranquilo, quase mágico.

É como se o tempo andasse mais devagar, permitindo que a gente aprecie cada detalhe com calma. Mas, por detrás de tanta beleza, existem histórias que merecem ser conhecidas, histórias de luta e respeito pelo mar. O que mais chama atenção na visita a este local não é apenas a paisagem linda, mas também a presença constante de pescadores.

Homens simples, com o rosto queimado pelo sol, saem todos os dias para o mar em pequenos barcos artesanais, muitas vezes com materiais reaproveitados. Esses barcos, mesmo sendo frágeis, enfrentam o mar em busca de peixe, o principal sustento das suas famílias. Cada ida ao mar é um acto de coragem, paciência e conhecimento passado de geração em geração. É uma rotina de esforço, fé e esperança.

Paindane continua a ser um lugar de sonho, um espaço onde a natureza, cultura e o trabalho convivem em harmonia. Mas é também um lembrete de que cuidar do meio ambiente precisa de ser prioridade, para que essa beleza dure por muito tempo.

Visitar Paindane é mais do que fazer uma viagem. É uma oportunidade de conhecer de perto a riqueza natural e humana de Moçambique e de pensar no que estamos a fazer para cuidar bem da nossa terra, porque a beleza verdadeira só continua a existir quando é protegida.













sábado, 16 de agosto de 2025

 

O fotógrafo oficial e o protocolo

Na vida pública, nada é por acaso. Uma cadeira deslocada, um gesto fora de hora ou uma fotografia mal enquadrada podem pôr em causa a imagem de uma instituição. É por isso que o fotógrafo oficial não pode limitar-se a dominar a técnica: tem a obrigação de conhecer as normas de protocolo.

O protocolo, lembra António de Araújo, é o conjunto de regras que asseguram ordem e respeito nas cerimónias. Quando o fotógrafo ignora esse código, corre o risco de se tornar protagonista indesejado: invade espaços restritos, interrompe discursos com cliques ou regista imagens que desrespeitam a hierarquia. O erro não é apenas fotográfico, é institucional.

Respeitar a ordem e a precedência é fundamental. Um chefe de Estado não pode aparecer deslocado numa foto de grupo. A discrição também conta: não há espaço para correrias atrás de ângulos ou para o barulho da câmara durante um hino nacional. O respeito ao espaço cerimonial é outra regra de ouro: atravessar zonas reservadas é mais do que falta de educação, é quebra de protocolo. Até a indumentária do fotógrafo comunica: o profissional também é parte da cena e deve estar à altura dela.

Juan Carlos Gafo insiste que “o protocolo não é rigidez, é harmonia”. E essa harmonia depende de cada detalhe. Uma fotografia pode valorizar um acto diplomático ou, pelo contrário, transformá-lo numa confusão de imagens mal posicionadas. Como bem lembra Sílvia Helena Zanirato, a comunicação institucional também se faz através das imagens. Muitas vezes, é a fotografia e não o discurso que fica para a história.

Em Moçambique, onde as instituições ainda consolidam a sua imagem perante os cidadãos e o mundo, o papel do fotógrafo oficial ganha peso extra. Ele não apenas regista: legitima. A sua lente testemunha momentos de Estado que se tornam memória colectiva.

Ser fotógrafo oficial, portanto, não é apenas carregar uma câmara. É carregar uma responsabilidade histórica. Conhecer o protocolo não é um detalhe: é parte essencial do ofício. A fotografia pode imortalizar a ordem e a dignidade de uma cerimónia. Ou pode eternizar o descuido. A escolha está, quase sempre, no olhar de quem está atrás da lente.

 Umbeluzi: Quando o sustento vira armadilha!

Texto e fotos de Carlos Uqueio, publicado no dia 16/08/2025-Jornal Noticias

Nas margens do rio Umbeluzi, em Boane, um retrato discreto e duro revela-se todos os dias. Ali, jovens e adultos mergulham tanto de dia assim como de noite, no leito do rio para extrair areia, que depois segue para obras e construções. O que para muitos é apenas matéria-prima, para eles é a única forma de garantir o sustento da casa.

Mas o preço é alto. O Umbeluzi é um rio que carrega crocodilos nas suas águas silenciosas, esperando por quem se distrai ou não tem escolha. Sem equipamentos de proteção, sem licença ou acompanhamento técnico, esses exploradores avançam com baldes e sacos, confiando apenas na própria força e na esperança de sair dali vivos.

A prática, além de ilegal, corrói o meio ambiente. As margens cedem, o leito do rio vai ficando mais fundo e o seu equilíbrio natural se perde. A extração descontrolada favorece inundações e destrói habitats, deixando o futuro do ecossistema tão vulnerável quanto quem arrisca o corpo dentro d’água.

Enquanto alguns se dedicam a explorar inertes, há mulheres que lavam roupa e carregam-na para o consumo, como ilustram as imagens. Não é só nas margens do rio que essa exploração acontece. Nas proximidades, formam-se pequenos grupos que também praticam essa actividade, evidenciando como a dependência da areia vai para além do leito do Umbeluzi e infiltra-se no quotidiano de quem vive ali.

“É daqui que tiramos o pão. Sabemos do perigo, mas não temos outro caminho”, confessa um jovem, sem largar o balde. O olhar dele, captado pelas lentes desta reportagem, diz o que as palavras não alcançam: a necessidade empurra para o risco, mesmo que seja contra a natureza  e contra a própria vida.

Esta reportagem fotográfica de Carlos Uqueio mostra  mais do que homens no trabalho. Ela expõe o contraste doloroso entre a luta pela sobrevivência e a destruição silenciosa do ambiente. Um ciclo que ameaça o rio, as suas margens e todos os que dependem dele.

No fim, fica a pergunta estampada nas imagens: até onde vale a pena cavar o presente, se isso significa afundar o futuro?