sábado, 3 de agosto de 2019


Culto a la zione

Água do mar não tem azar

Texto de : CAROL BANZE

Fotos de Carlos Uqueio


 



Eles estendem-se pelas areias brancas da praia. Desligam-se do concreto e estabelecem um diálogo com o invisível. O mar torna-se um verdadeiro altar, por dentro e por fora.
                    
Cor e luz (divina) resplandecem e ganham espaço em momentos de louvor feitos ao vento, numa combinação “mais que perfeita”. Um movimento invariável e combinado de pernas “desarruma” o soalho alvo gratuitamente oferecido pela natureza. São os crentes da igreja zione, que giram, giram, fortificando o compromisso com o omnisciente, omnipotente e omnipresente, um exercício feito geralmente sob orientação de pastores.
                  
Hilário Zanga é um destes homens, que se apresenta equipado de bengala e batina de cor branca presa por um xifungo (corda) de confecção ímpar que lhe circulava a cintura franzina. Ele monitorava as manifestações de “Helena”, uma mulher “possuída”, que fora parar ao terreiro por culpa das forças do além.                                                               
Movimentada à semelhança de um xindire (pião), entrou para a roda da investigação profunda, que terminaria minutos após se detectar “um espírito”, que se apresentou aos olhos da reportagem do domingo como um velho e bom “guerrilheiro”.
                         
A verdade é que, naquele instante, “Helena” havia perdido partes de si, da sua consciência: batia desesperadamente no peito; marchava, ajoelhava, gritava, lacrimejava. Emitia uma voz marcadamente masculina, que lhe subia laringe acima, contrariando toda a sua natureza feminina.
                          
Esta cena ocorreu numa manhã recentemente passada de Inverno, num dia marcado propositadamente “para detectar e tirar demónios”, revelou o pastor Hilário ao domingo.
Era uma missão e tanto, que desafiava a brisa frígida trazida pelos movimentos do mar largo, que, de segundo a segundo, vomitava a escuma que aparentemente o afligia.
                     
O que se dizia é que havia que “libertar” “Helena”,Rosa”, “Simião” e outros tantos, uma acção feita aos rodopios de esbugalhar as pupilas de qualquer um.
                       
E as ondas da praia simplesmente conspiravam a favor. Na realidade, tudo o que se queria era, precisamente, aquele ar (des) concertante das águas salgadas, que induzia a uma sensação arrepiante porém motivadora, em que se cria que do sal sairia a cura, pois esta substância “afugenta o mal; torna a vida mais saborosa, afinal, até a comida sem sal não tem gosto nenhum, não é verdade?”, observou Celeste Chilavule, membro da igreja zione, sediada na autarquia de Boane, província de Maputo.
                     
E a luta continuou sob o olhar atento dos leigos e adeptos. Corpos de humanos imergiam e emergiam de segundo a segundo. Vibravam, vociferavam, babavam. “Hiyêêêê...”, lá se manifestavam sob olhares atentos dos diferentes grupos, que, paralelamente, juntavam as mãos em plenas e profundas orações, com o intuito de “agradar os espíritos que ‘vivem’ dentro do mar. São eles que atraem estas pessoas para aqui, para poderem se manifestar. Os espíritos gostam de água, por isso, todos nós devíamos mergulhar no mar, para nos purificarmos e revitalizarmos”, argumentou o pastor Bila, participante ao culto. 
                  




                                UMA COR
                            UMA FUNÇÃO

                                             
A vida religiosa na congregação zione é, no mínimo, cheia de mistérios. Na bagagem do “bom pastor”, para além do xifungo e da batina “não faltam a vela, os óleos que dão sorte no trabalho e no amor. Alguns fazem os homens torcerem o pescoço ao avistarem o sexo oposto na via pública (ou vice-versa). São vários artigos, cada um com a respectiva função”, citou Zanga.
Falando especialmente da vestimenta de variadas cores, explicou que levam consigo uma elevada carga simbólica.  
                   
De acordo com aquele pastor, o verde traz paz e harmonia, à semelhança do branco. Mas a cor branca, ao mesmo tempo, ajuda na comunicação e cria harmonia na relação com os defuntos: “eles passam a mostrar em sonhos os males que circundam os seus familiares”, argumentou. Já o amarelo – continuou – serve para chamar e/ou evocar os bons ares; para proporcionar a graça na vida do indivíduo. Em posição de ataque está o vermelho “usado para combater os maus espíritos”. Numa posição contrária, usam a cor castanha para premiar a vida do homem, “dando-lhe bênçãos”, avançou.
                  
O trabalho complexo e curioso arrasta homens e mulheres aos magotes, e “é sustentado pela simbologia da água encontrada na bíblia, ou seja, no facto de que Jesus Cristo foi purificado com recurso à água, através do baptismo. Por isso, costuma-se dizer que a água do mar não tem azar”, argumentou José Sequeira, crente da igreja zione.
Facto interessante é que esta actividade já mereceu, inclusive, estudos científicos.
Consta em algumas linhas dessas pesquisas (vide Victor AGADJANIAN, Lusotopie 1999) que a origem do nome das igrejas ziones (Zionist) provém da cidade de Zion City, Illinois, Estados Unidos da América, onde a Christian Apostolic Catholic Church, a Igreja que deu o início a este ramo do pentecostalismo, foi fundada por J. Dowie em 1896.
                 
As primeiras igrejas zionistas na África Austral surgiram na África do Sul sob a influência norte-americana no início deste século. A sua penetração em Moçambique começou no período colonial e continuou a crescer depois da proclamação da independência de Moçambique, em 1975.
É estruturada em torno da figura carismática do pastor (mufundisi) que frequentemente, sobretudo em casos de igrejas pequenas, é também o profeta (muprofeta), que possui o dom de invocar o Espírito Santo para efectuar a cura.
Entretanto, outro facto a salientar é que participam em sessões ziones membros permanentes, que frequentam tanto as sessões de oração como as de tratamento. Mas também os que buscam a cura e portanto frequentam sobretudo as sessões de tratamento (masiku ya kupfuna). No segundo caso, nem sempre a participação significa uma conversão definitiva.

sábado, 25 de maio de 2019



                                           África

                                   


Texto: Pretlerio Matsinhe
Fotos: Carlos Uqueio



Perdeste a tua essência quando permitiste que descortinassem o véu da tua inocência. Foste pisoteada, lavrada, pilhada, humilhada, ferida até nas tuas entranhas e viste os teus pequenos seres que brotavam na pureza a sangrarem mundo afora.



A penúria da humanidade nunca te mereceu, mas te esforçaste para acolher a todos com as suas impurezas. Tu és forte, doce e leve. Por isso perdoaste as angústias que a ganância e a intolerância te causaram. Hoje te alegras ao amanhecer e veres o sol a brilhar, ao acordares ao som dos passarinhos e estás a trilhar novos caminhos, construindo a tua história.

És África da alegria, do sorriso fácil, hospedeira...mãe porque do teu ventre nasceram os filhos que pincelam o mundo.  Levanta-te, África, continua a sonhar, a caminhar, a bailar o Tufo, o Mapiko ao som da Timbila, dos tambores que rufam ao anoitecer. 

Leva a tua voz para o mundo, espalhe a humanidade, combate as tuas doenças, luta contra o capitalismo que devasta as tuas bênçãos divinas, que destrói o verde de esperança e  deixa-te ensanguentada de desgosto. Limpa as lágrimas e sorri, tu és o mundo, África. 





segunda-feira, 13 de maio de 2019


Mãos que “tecem” a terra











Texto: Belmiro Adamugy
Fotos: Carlos Uqueio


A velha sabedoria africana ensina que as nossas mãos são as que melhor secam as nossas lágrimas. Vale o mesmo para tudo o resto. Se tomarmos nós mesmos as iniciativas a probabilidade de êxito é maior.
                  Olhe-se atentamente para as mãos que manuseiam o amendoim. Tirado da terra fecunda, as vagens contêm a “fruta” que é um legume bastante apreciado.
                                                 
 Torrado, cozido, pilado, o amendoim entra-nos casa adentro e assenhora-se dos nossos sentidos. Vê-lo prontinho disfarça a canseira que é o processo de preparação. Só mesmo mãos treinadas pela experiência para nos propiciar o deleite de degustá-lo.
                                                
Carlos Uqueio, foto-jornalista de olhar arguto, captou com leveza esse tear que é a vida a partir das mãos que tecem a terra para dela brotar o alimento para a alma. Atente-se nos detalhes. Nos calos que o tempo plantou nas mãos que, gretadas e às vezes maltratadas, são capazes de perceber a beleza e o encanto de uma planta que esconde na terra o segredo dos deuses. Há uma vitalidade perceptível não apenas pela persistência mas também pela capacidade de começar de novo a cada novo ciclo da natureza.
                                    

sábado, 11 de maio de 2019


O dia em que a água não nos levou

Texto: Carol Banze
Fotos: Carlos Uqueio
Publicado in 'jornal domingo'




Uma forte corrente de água tomou parcialmente a viatura a todo terreno que nos transportava até Macomia, na cobertura de uma nobre missão, após a passagem do devastador ciclone tropical Kenneth. Era domingo, dia 28 de Abril último, passávamos pelo posto administrativo de Mieze, à entrada do distrito de Metuge.
                                 
Os contornos da estrada que nos levaria ao nosso destino tinham sumido das nossas vistas. Vimo-nos envolvidos por uma fronteira líquida. Uma corrente feroz convidava-nos a todo o instante a um destino tenebroso.
A força e imensidão daquelas águas turvas, cuja dimensão semicerrava os olhos de quem se atrevia a estender o olhar, deixavam-nos literalmente em cólicas.
Por alguns minutos, ficámos entre a terra firme e o curso de água, que se precipitava em direcção ao mar, a uma velocidade que beirava os 50 quilómetros por hora, emitindo um som arrepiante e aterrorizante.
                                    
A nossa vida ficou dependente de cálculos e de sorte. Muita sorte. Um cenário sinistro desenhou-se. Seguir até Macomia era uma questão de escolha. Ou não. A verdade é que Ave-marias foram rezadas em silêncio; os antepassados invocados numa busca por forças naquela condição de adversidade.
O desafio estava lançado. De qualquer modo, naquela condição de cegueira, uma luz guiou a mente dos condutores que transportavam a nós, jornal domingo, e a distinta lista de altas individualidades lideradas pelo Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
                                     
Louvados foram aqueles homens que vestiram, momentaneamente, a pele de “marinheiros”; transformaram veículos terrestres em embarcações aquáticas e tornaram possível a nossa passagem rumo a Macomia.
A verdade é que toda a gente, naquele momento, viu-se submetida à prova de temeridade e determinação. Mas a odisseia não terminou por aqui, pois, percorridos alguns quilómetros, fomos confrontados de forma directa pelo rio Mieze.
Ele encontrava-se posicionado debaixo de uma pequena ponte, e era visível aos pulos, numa tentativa infrutífera de trepar o asfalto, como consequência da chuva que caía de forma ininterrupta.
                                    
De qualquer modo, havia que seguir viagem, ainda que envoltos em dúvidas em relação ao regresso, afinal a força das águas violentas já dera mostras de que não daria tréguas.
Naquele instante, o futuro deixou de ser uma prioridade. Vivemos uma hora de cada vez. O presente, sim, estava no cerne da questão, afinal milhares de pessoas aguardavam encarecidamente por olhares complacentes, palavras de conforto e, sobretudo, por um norte, que ia sendo transportado na coluna de esperança. Macomia esperava por isso, e muito mais.
O que de forma imaginária se sabia é que os estragos provocados pelo insaciável Kenneth haviam criado chagas quase incuráveis. Já no terreno, de localidade em localidade, distrito em distrito, o pesadelo ganhou forma e apresentou-se aos olhos de todos.
                              
Várias mulheres, algumas trajadas de djubôs e turbantes coloridos, acompanhadas dos homens daquelas terras, encontravam-se posicionadas aos magotes, ao longo da estrada. Em Meluco, Roma, exibiam olhares atónitos, que expressavam incertezas.
Os contornos dos seus corpos estavam expostos, tudo por culpa de cada gota indisciplinada e assassina da chuva que teimava em cair. As poses eram únicas e invariáveis: de braços levantados até à altura do peito, tremendo de frio, rangendo os dentes, sofrendo de fome…. 
Como não? A passagem do ciclone apagou o sorriso e o alento em cada uma daquelas respeitáveis figuras que fitavam o olhar em nós clamando por qualquer ajuda.
A tempestade tinha derrubado as construções locais, infra-estruturas que se estendiam tipicamente ao longo da estrada, cujo desenho lembra a figura de um nyamussoro (curandeiros) de chapéu, sentado, vestido adequadamente para o acto de fembar (detectar espíritos); tirou-lhes as machambas, as árvores....
E a nossa viagem seguia, os minutos passavam, as distâncias ultrapassadas. A dada altura, a vila-sede de Macomia revelou-se totalmente devastada: edifícios administrativos, casas, escolas, hospital, praticamente desnudos. Os postes de energia estavam tombados. Na berma da estrada, via-se uma instituição bancária apenas resguardando, no meio de ruínas, a caixa 1, caixa 2 e caixa 3.
Kenneth levou consigo a dignidade de pessoas, condicionou o seu direito à educação, à saúde; amputou o privilégio de progredirem na vida.
Milhares de famílias ficaram sem tecto, sem chão, sem parede, sem vida. Corações foram destroçados. A tempestade roubou o bem mais precioso que existe no universo: a vida, de dezenas de pessoas.
O retrato da desgraça ficou fixado, na só em Macomia mas também, desde o dia 24 de Abril, em locais como Ibo, Quissanga, Mocímboa da Praia, só para citar alguns exemplos. Entretanto, a cidade capital da província, Pemba, para onde regressámos sem sobressaltos após a atribulada viagem, não escapou dos resquícios da funesta ocorrência.
Conquistas obtidas ao longo de vários anos foram colocadas terra abaixo. O desempenho de famílias esforçadas transformado em entulho.
Em Pemba, o lendário Cariacó, que acolhe a história de várias origens, foi colocado de bruços. Não só este extenso pedaço de terra, mas também Natite, outro bairro também colado à capital. Ficou abarrotado de água e abriu-se pelas costuras, agravando a condição das respectivas vias de acesso. Em Ingonani, terra da Raínha Mariamo e seus “súbditos”, várias residências desmoronaram. O muro da marinha cedeu. Salas de aula, em Paquitequete, ficaram descobertas. As chapas que lhe cobriam o tecto voaram metros abaixo, depois de ficarem retorcidas devido à força dos ventos.
De qualquer modo, o renascer de alguma esperança por dias melhores estava depositado no rosto cândido e iluminado de uma criatura de poucos dias de vida, que, aconchegada nos braços da sua mãe, dentro de um centro de acolhimento, contradizia toda a expressão de dor e tristeza dos demais; aumentava a esperança por dias melhores; a vontade de repaginar vidas, com recurso a letras garrafais, carregadas de positividade.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Vénias às bases desta terra Texto de Carol Banze Fotos de de Carlos Uqueio Amanheceu. Do Rovuma a Maputo, do Zumbo ao Índico, a nação se estende à vastidão do seu chão e presta louvores às bases desta terra. Curva-se à Luísa e Marisa; à Maria e Angelina. Das terras do norte ecoa o som do apito e do canto rimando generosamente com os passos das turmalinas enformadas de carne e osso, cuja imagem aparece reflectida na imensidão do céu. São vozes sibilantes que cantam tal-qualmente as andorinhas anunciando a primavera. As ondas do Índico transportam de lés a lés a canção do louvor. É Abril! Moçambique renova as suas cores, ganha novas formas, as formas do amor. É a Felicidade que se aguça no olhar meigo e sorriso maroto da linda menina, digna hospedeira duma nação sem igual, onde as mulheres macuas pulam a corda, de forma periclitante, ao ritmo da paz e do perdão. Onde a terra estremece de prazer a cada salto nesta corda da vida, uma vida que se transforma a cada momento, em cada lugar. É o tufo expressando o clamor de cada macua, masena, mandau, machanga, manhambana…, revigorando o desejo de ver a chama da unidade viva em cada moçambicano. É a dança da esperança por um país melhor, livre da soberba e da cobiça; do ódio e da maldade. É a homenagem a todas as mulheres moçambicanas. Viva o 7 de Abril!








quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


Abu Dhabi: uma cidade camaleónica

Texto: Belmiro Adamugy
Fotos: Carlos Uqueio


Um navegador que teme perder a margem de vista jamais conquistará sequer uma ilha, disse o famoso navegador Cristóvão Colombo. Não poderia ser mais apropriada a frase para encimar a prosa restante… uma prosa (in)completa sobre Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU).
                                      
(In)completa porque as obrigações profissionais - cobertura da reunião intermédia da Aliança Global para Vacina e Imunização -  não o permitiram mas, sobretudo, porque a imensidão da mesma e os encantos que esconde e revela são incomensuráveis. A cada passo, uma surpresa. A cada olhar, uma revelação. A Cidade apequena o indivíduo mas destaca o engenho humano. Enche o olho de quem chega…




 Entra-se pelo país adentro, principalmente, pelo Aeroporto Internacional de Dubai. Por acaso é lá onde está plantado o prédio mais alto do mundo; Burj Khalifa Bin Zayid (a Torre do Khalifa), majestosa por cima dos seus 828 metros e 160 andares mas é em Abu Dhabi onde está o prédio mais inclinado do mundo (Capital Gate Tower) de 160 metros de altura e 35 andares (está registado no Guiness Book 2010).
                                      
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) são uma federação de 7 emirados, nomeadamente Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Ras Al Khaimah, Umm Al-Quwain e Fujairah. A população é de cerca de 10 milhões de habitantes sendo - interessante este detalhe - apenas 12 por cento emiratis, 21 por cento indianos, 13 por cento paquistaneses, entre outras nacionalidades. A língua oficial é o árabe mas também se fala bastante inglês, hindi e urdu. A moeda é Dirham.
Essa profusão de línguas, incluindo o castelhano, é “visível” a olho nu. É tanta gente, de origens diferentes, se acotovelando nas ruas dia e noite. Dir-se-ia que a cidade nunca dorme. 

Dubai é a cidade mais conhecida mas a capital do Emirado é Abu Dhabi. É de lá onde o Principie - Herdeiro de Abu Dhabi e Vice-Comandante Supremo das Forças Armadas Sheikh Mohammad bin Zayed Al Nahyan dirige o país, desde 2014, por causa do estado de saúde do Chefe de Estado Sheik Khalifa bin Zayed Al Nahyan, que ascendeu ao trono após a morte do seu pai, Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan (primeiro presidente dos EAU desde a sua fundação, há 47 anos, até 2004.
                                                 

Aliás, as ruas de Abu Dhabi estão prenhes de reclames luminosos, outdoors, bandeiras e cartazes anunciando os 47 anos da fundação dos Emirados, cujo poder legislativo é unicamaral - Conselho Nacional Federal, com 40 membros: 20 indicados pelos Emires e 20 eleitos. Cada mandato tem a duração de 2 anos. O Sistema Político dos Emirados Árabes Unidos é constituído por um Conselho Supremo, Conselho de Ministros, e Conselho Nacional Federal.

O Conselho Supremo é formado pelos sete Emires e re­úne-se quatro vezes por ano. Em cada cinco anos o Conselho vota para a escolha do Presidente e do Vice-Presidente, sendo que os Emires de Abu Dhabi e de Dubai têm poder de veto.
                              
Os EAU estão filiados a diversas entidades internacionais, sendo de destacar a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Liga Árabe, Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), Movimento dos Países não-Alinhados e Organização da Cooperação Islâmica.

Detêm a sexta maior reserva de petróleo e com um elevado rendimento per capita (USD 68.600 em 2017) e um superávit comercial anual considerável. De acordo com o Banco Mundial, o PIB per capita do país é o 20º maior do mundo e o segundo maior do Médio Oriente, depois do Qatar.

As exportações de petróleo e do gás natural desempenham um papel importante na economia, especialmente em Abu Dhabi. Um boom na construção, uma base industrial em expansão e um sector de serviços em crescimento contribuem para a diversificação da base económica dos EAU. Exportam também peixe e tâmaras.
                              

Outra fonte de divisas importante é a Autoridade de Investimento de Abu Dhabi, que controla os investimentos de Abu Dhabi, gerindo cerca de USD 360 mil milhões em investimentos no exterior e cerca de USD 900 mil milhões em activos.


No início da década de 1930, a primeira empresa petrolífera dos EAU realizou inquéritos preliminares e o primeiro carregamento de petróleo bruto foi exportado de Abu Dhabi em 1962. Com o aumento das receitas do petróleo, o Emir de Abu Dhabi, o Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, empreendeu um programa de construção de escolas, habitação, hospitais e rodovias. Quando as exportações de petróleo de Dubai começaram, em 1969, o Sheikh Rashid bin Saeed Al Maktoum, Emir de Dubai, também utilizou as reservas de petróleo para melhorar a qualidade de vida da população…

E isso é visível.

ABU DHABI POR DENTRO

                              
Abu Dhabi é uma cidade viva. Dia e noite. Fervilha. É o símbolo da modernidade, do futuro. Cidade rica e reservada. Apesar do enorme movimento de pessoas e carros, Abu Dhabi, mantém uma certa quietude quase palpável. Mal se ouve uma buzinadela. Não há polícias fiscalizando o tráfego ou peões. Isso está a cargo de câmaras de vigilância… mas até isso parece dispensável tal é a ordem vigente.
As ruas, largas e bem cuidadas; jardins verdejantes (note-se que a cidade foi erguida num deserto) e edifícios majestosos a perder de vista. A cidade está repleta de arranha-céus de vidro e metal e praias. E ainda há outros tantos em construção. Há tantas gruas pela cidade que cresce a olhos vistos… num país que não tem um único rio natural mas não falta água!
Nos curtos dias de estadia, foi possível perceber que todos os habitantes dos EAU andam na “linha”. A Lei e Ordem imperam de verdade. Ninguém bebe na rua, os jardins não são vandalizados, não há muros pinchados de palavras obscenas, os motoristas obedecem aos sinais de trânsito… enfim a paz social reina…
                               
E a cor da paz é prevalecente. Os emires vestem-se exclusivamente de um branco imaculado. A cor é apropriada para quem vive num ambiente hostil como é um deserto. O branco reflecte os raios solares e dá uma sensação de frescura.

Abu Dhabi também tem as suas torres gémeas, curiosamente, chamadas World Trade Centre. Mas há um lugar mágico, a grande mesquita Sheik Zayed. É um edifício impressionante com colunas cobertas de pedras semi-preciosas. Diz-se que tem o maior tapete persa do mundo.

Abu Dhabi é luxo e ostentação mas também é cultura e religião. É o paraíso para os fãs de arquitectura. É a maior cidade dos emirados e há quem diga que é a mais rica… pelo menos Mukhtar Ahmad, o nosso motorista e cicerone, o afiança antes de atirar que “Abu Dhabi é o melhor sítio para se viver”.
                              

O Heritage village é também um lugar interessante. Para além de iguarias locais, lenços e túnicas, foi construído no local uma réplica dos primeiros edifícios erguidos no que é hoje Abu Dhabi. Casas de pedra, tendas e poços. Também é possível ver cavalos e camelos. Uma forma interessante de preservação da história.

A cidade também tem vários Malls (lojas de grandes superfícies) sendo que alguns funcionam ininterruptamente mas o Marina Mall destaca-se. Localizado próximo do Emirates Palace Hotel. Luxo puro, para além de lojas, restaurantes, tem uma pista para patinagem no gelo.
                       
Mukhtar levou-nos ainda a Eithad Tower, que é um complexo de prédios que conta com 5 torres que estão localizados bem em frente ao hotel Emirates Palace. O lema do Eithad Tower diz que as torres são um reflexo de tudo o que Abu-Dhabi será num futuro próximo: moderno, luxuoso e sofisticado.